A Sinfonia Nº 2 foi iniciada por Villa-Lobos por volta de 1917, mas só foi concluída perto de 1943/44.
A estreia ocorreu em 6 de Maio de 1944, pela Orquestra Sinfônica da Rádio Nacional, sob a batuta do próprio compositor.
A primeira apresentação norte-americana aconteceu pouco mais de seis meses depois, em 26 de novembro de 1944, no Philharmonic Auditorium, em Los Angeles, pela Sinfônica Janssen de Los Angeles, dirigida por Villa-Lobos.
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A sinfonia integra um ciclo de cinco sinfonias compostas no estilo cíclico inspirado por Vincent d'Indy — ou seja, o primeiro tema geral reaparece ao longo dos movimentos, unificando a obra.
Estrutura e linguagem musical
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São quatro movimentos, com a forma tradicional de sinfonia: Allegro non troppo; Allegretto scherzando; Andante moderato; Allegro.
O primeiro tema do primeiro movimento volta como tema cíclico nos outros movimentos — aparece em baixos ou madeiras, por exemplo. Isso dá à obra coesão e uma sensação de “unidade espiritual/expressiva”.
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No terceiro movimento (lento), há transição de tonalidade (de Si menor para Ré maior), o que marca uma transformação simbólica no percurso da sinfonia — algo quase “de escuridão para luz”.
O movimento final tem soluções harmónicas e modulantes arrojadas: a tonalidade dos temas principais está separada por um tritono, e a recapitulação realiza transposição por um pequeno intervalo, criando tensão tonal e incerteza antes da resolução final.
Expressividade, estilo e significado
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Apesar de ser estruturalmente dentro da tradição clássica/romântica — sinfonia, orquestra completa, formas de sonata/rondo — a Sinfonia 2 mostra já um estilo pessoal de Villa-Lobos, que mistura disciplina europeia com liberdade expressiva e harmonias modernas. ~
Diferentemente da sua 1ª sinfonia (e da 3ª e 4ª) — que têm programas literários explícitos — a 2ª não tem um “programa narrativo” formal divulgado.
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Mas há quem veja a obra como expressão do “estado de alma” do compositor na época: há um componente introspectivo e psicológico, não-literal, em que os temas, tonalidades e evoluções refletem sentimentos de ascensão, conflito, esperança — como se a música narrasse um caminho interior.
Por que vale a pena ouvir
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A sinfonia tem grande ambição: dura cerca de 50 minutos, sendo uma das mais longas de Villa-Lobos — permite mergulhar profundamente na imagética sonora do autor.
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A construção cíclica dá sensação de unidade, de “viagem musical” — ideal para quem gosta de obras com coerência interna e desenvolvimento dramático.
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Mistura técnica clássica com liberdade estética: é um bom exemplo de como Villa-Lobos dialoga com tradição e modernidade, sendo distinto do nacionalismo folclórico pelo qual às vezes se pensa nele — aqui temos universalidade + subjetividade.
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