terça-feira, 11 de novembro de 2008

Berlioz

Louis Hector Berlioz nasceu em La Côte-Saint-André, perto de Grenoble (França) a 11 de dezembro de 1803. Embora muito cedo revelasse talento musical, aos dezoito anos a família enviou-o para Paris, a fim de fazer um curso de medicina. Atraído pelo Teatro da Ópera e pelo movimento artístico da metrópole, não tardou em trocar a universidade pelo conservatório: a desaprovação dos pais lhe custaria quase dez anos de aborrecimentos.

Depois de várias tentativas infrutíferas, Berlioz conquistou em 1830 o prêmio de Roma. Escreveu a cantata A última noite de Sardanapalo (1830), trabalho inacabado e não publicado. Mas ficaria apenas um ano e meio na Itália. Foi na mesma época que compôs a Sinfonia Fantástica - Episódio da vida de um artista (1830), expressão retumbante de seu amor pela atriz inglesa Harriet Smithson. Três anos depois estariam casados, mas profundamente infelizes.

Berlioz não conseguia fazer aceitar sua arte: a miséria material o perseguiria até os últimos dias. O ambiente de Paris lhe era em tudo adverso: a música sinfônica e instrumental era inteiramente desprezada, em benefício de uma voga de óperas medíocres, de Auber, Halévy e outros.

Escritor espirituoso, Berlioz colaborou no Jornal dos debates como crítico de música para sobreviver, trabalho que odiava. Em 1839 foi nomeado conservador da biblioteca do conservatório, único posto oficial que ocupou em vida.

De 1840 em diante, viajou como regente de orquestra. Recebeu, contudo, o estímulo de um reconhecimento entusiástico por parte de Paganini. Foi dessa época a sua paixão por Marie Recio, cantora sem sucesso e que não lhe traria menos infelicidades do que a primeira mulher. Em 1852, Liszt organizou em Weimar uma ‘Semana Berlioz’, cujo êxito não chegou a equilibrar a situação material do compositor. Foi eleito membro do Instituto (1856), mas sua obra não continuava não sendo muito apreciada na França.

Os últimos anos foram os mais amargos do sofrido Berlioz, salvando-o do naufrágio total apenas a viagem à Rússia, em 1867: deu uma série de concertos em Moscou, conheceu a música do grupo dos ‘Cinco’, descobriu o gênio de Mussorgsky. Berlioz acabou por morrer na solidão, em Paris, no dia 8 de março de 1869.

Berlioz foi um romântico autêntico, com todas as qualidades e defeitos do movimento de que, na França de seu tempo, foram Victor Hugo e Delacroix os protagonistas. O fascínio pelo monumental, pelo desmedido, embora prejudicando sensivelmente os resultados estéticos de seu trabalho, acabou por levá-lo a uma das suas principais realizações: a revolução da técnica orquestral. A riqueza, o colorido das combinações instrumentais já se fazem sentir na Sinfonia Fantástica.

A grandeza de Berlioz como compositor não é, até hoje, unanimemente reconhecida. Sua contribuição historicamente mais importante para a música do século XIX foi a da invenção da música de programa, fruto de sua sensibilidade principalmente literária. Substituiu o desenvolvimento de idéias musicais, conforme a lógica interna à maneira de Haydn e Beethoven, pela submissão da música a um programa literário, chegando até a imitação de ruídos característicos.

Esses programas são, em Berlioz, os do Romantismo francês a que se misturam elementos fantásticos e grotescos. Para tanto, usa orquestra muito maiores e mais diversificadas que as do Classicismo vienense. Seu Grande tratado de instrumentação e de orquestração modernas (1844) é obra básica, de forte influência sobre Liszt, Wagner, Richard Strauss e Smetana.

A riqueza e o colorido das combinações instrumentais se fazem sentir na Sinfonia Fantástica (1830), obra vigorosa, cativante pela magia do movimento lento e pelo naturalismo macabro da Marcha do tormento.

Mas a admirável orquestração de Berlioz, que faz de seu requiem Missa dos mortos (1837) a mais aparatosa música fúnebre já composta, chega ao ponto mais alto em Romeu e Julieta (1839), sinfonia dramática dedicada a Paganini, que lhe encomendara alguns anos antes a sinfonia Haroldo na Itália (1834), pitoresca viagem musical pela paisagem italiana e até hoje uma das obras mais executadas do compositor.

No talento inquieto e generoso de seu criador, a prática salvou a teoria, sendo a melodramaticidade dos programas por uma indiscutível inventividade melódica. Essa qualidade faz de A danação de Fausto (1846), cantata cênica baseada - muito livremente - na obra de Goethe, uma de suas melhores criações, e daria ao oratório A infância de Cristo (1850-1854) uma beleza serena e surpreendentemente sóbria.

Em suas últimas composições, Berlioz superou os transbordamentos românticos peculiares às outras fases, conseguindo dar à ópera Os troianos (1856-1859) um sabor virgilianamente clássico e momentos de verdadeira grandiosidade, sobretudo em sua segunda parte, Os troianos em Cartago.

Além das mencionadas, Berlioz deixou as aberturas O rei Lear (1831) e O carnaval romano (1844), a Sinfonia fúnebre e triunfal (1840), a ópera Benvenuto Cellini (1834-1838). De sua produção literária, são importantes: Grande tratado de instrumentação e de orquestração modernas (1844), As noites de orquestra (1852), Os grotescos da música (1859).

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Donizetti

Gaetano Donizetti nasceu em Bérgamo (Itália), nasceu em 29 de novembro de 1797. Foi aluno do padre Mattei - o professor de Rossini - em Bolonha. Pouco depois dos seus primeiros êxitos em diferentes teatros italianos, fixou-se (1827) em Nápoles, onde se tornou professor do Real Collegio di Musica e, estreou, em média, trës novas óperas por ano.

Mas em 1838, trocou Nápoles por Paris, de onde fez várias viagens a Itália - em 1842, dirigiu, em Bolonha, a primeira audição do Stabat Mater de Rossini - e a Viena. Os últimos anos de sua vida foram ensombrados por uma paralisia geral e perturbações mentais, que obrigaram o seu internamento (1846) num hospital psiquiátrico de Ivry. No ano seguinte, foi levado para Bérgamo, onde morreu em 8 de abril de 1848.

A incrível velocidade de trabalho de Donizetti - algumas óperas, libretos e música, foram compostas em quinze dias - e a sua enorme atividade - era muitas vezes, mestre de canto e encenador dos seus espetáculos - não lhe permitiram realizar uma obra homogênea. Nela, encontram-se, lado a lado, o melhor e o pior: o atrativo de uma inesgotável veia lírica é, muitas vezes, enfraquecido pela vulgaridade da harmonia e da instrumentação. Salvo raras exceções - entre as quais se contam Elisir d'Amore e Don Pasquale, duas obras-primas da ópera bufa, dignas de Rossini -, o interesse das óperas de Donizetti está ligado ao culto do bel canto e ao fascínio da exploração vocal.

Escreveu 71 óperas, sérias e bufas, das quais as mais célebres são: Anna Bolena (Milão, 1830), Elisir d'Amore (Milão, 1832), Lucrezia Borgia (Milão, 1833), Lucia di Lammermoor (Nápoles, 1835), La favorite (Paris, 1840), Don Pasquale (Paris, 1843), 115 composições religiosas, oratórios, sinfonias, música de câmara.

Donizetti-Elixir do amor-Andina credimi

Entretanto aparece Giannetta e os soldados, que trazem uma mensagem para o sargento Belcore, que ele lê, constando que se tratava duma ordem e marcha, para o dia seguinte de manhã.

Perante a obrigação de mudança tão rápida, Belcore sugere a Adiana que antecipem o casamento para hoje o que deixa Nemorino em pânico o que não passa despercebido a Adina, que se mostra disposta a aceder.

Nemorino pede-lhe que espere pelo menos até amanhã, levando Belcore a perguntar-lhe o que lhe importa isso.

Começa então a intervenção de Nemorino com esta "Andina credimi", onde pede a Andina que não case com Belcore, que confie nele, apenas num breve dia e que se o fizer virá a arrepender-se .

Depois disso começa o concertante final do 1º acto, que além dos protagonistas acaba por envolver também o coro.

Belcore fazendo ameaças ao mesmo tempo que diz nem perceber a razão porque não desfaz aquele desgraçado.

Adina, pedindo a Belcore que não ligue é apenas um rapaz que meteu na cabeça que pelo facto de me amar eu tenho igualmente de o amar.

O Coro admirador do sargento, indigna-se pelo facto de um tolo daqueles pretender enganar um sargento.

O anúncio do banquete para que estão todos convidados, anima toda a gente, com excepção claro de Nemorino, que acaba lamentando-se

Despreza-me o sargento
burla-me a ingrata
sou o motivo do riso das pessoas
por culta da desapiedada
O meu oprimido coração já não tem esperança.
Doutor, doutor ! Socorro, piedade




sábado, 1 de novembro de 2008

Verdi

Giuseppe Fortunino Francesco Verdi nasceu em Roncole, a cinco quilômetros de Busseto (Parma), cidade próxima à Milão, a 10 de outubro de 1813. De família humilde, aprendeu a ler e escrever com um padre da cidade, quando tinha quase dez anos de idade. Seu pai, estalajadeiro de aldeia, percebendo a vocação musical de seu filho, mandou o menino estudar órgão, com o velho Pietro Baistrocchi, organista da igreja local. Mais tarde, com o intuito de aprimorar seus conhecimentos musicais, partiu para Busseto, onde tomou aulas com Provesi, maestro de capela do lugar.

Apaixonado por Margherita, a filha do comerciante A.Barezzi que possibilitou-lhe os estudos de música, Verdi foi para Milão apresentar-se no conservatório: queria impressionar a moça e conquistar uma vaga na escola de música. Seus conhecimentos foram considerados insuficientes e Verdi foi rejeitado. Embora decepcionado, continuou em Milão, trabalhando em V.Lavigna, um teórico e professor musical. Alguns anos depois, voltava a Busseto, convidado a ocupar o cargo de maestro da Filarmônica e organista de São Bartolomeu. Conquistou também o coração de Margherita, com quem se casou em 1836.

Três anos depois, com a ajuda da famosa soprano Giuseppina Strepponi, convenceu o empresário Mereli a montar sua primeira ópera, Oberto, conde de São Bonifácio, no Scala de Milão. O sucesso começou junto com a estréia do espetáculo, dia 17 de novembro de 1839. O empresário Morelli ficou tão entusiasmado com esse sucesso, que encomendou a Verdi uma série de óperas, que o compositor devia entregar de oito em oito meses. Mas o compositor passava por momentos difíceis em sua vida pessoal. Pouco antes, perdera seu primeiro filho. Dias depois da abertura da temporada, morrera seu segundo garoto e, por último, falecera Margherita, em 1840. A soprano Giuseppina, que o consolou nas desventuras, foi também a segunda esposa. Ela muito contribuiria para o sucesso de Verdi, inspirando e incentivando a compor.

Os maus momentos resultaram no fracasso em que se converteu a ópera-bufa ‘Un giorno di Regno’, escrita sob encomenda no ano em que ficou viúvo. Dois anos mais tarde, o mestre compõe Os lombardos na primeira Cruzada e Nabucco (1842) e a crítica atestou o seu renascimento.

Consagrado como um grande artista politizado e amado pelo seu povo, Verdi passou à outra etapa de sua de sua criação: elaborar personagens. Com base em textos de William Shakespeare, Victor Hugo e Alexandre Dumas e ajudado pelo roteirista Francesco Piave, Verdi passou a dedicar-se à dramaturgia. Estavam bem balanceados, no trabalho, a semântica sonora, a gesticulação cênica e a expressão facial dos atores. São desse período as três obras que lhe renderam fama mundial: Rigoletto (1851), O trovador (1853) e ‘La Traviata’ (1853).

Convidado a representar seu país na Grande Exposição Internacional de Londres, em 1862, o compositor deu asas à sua militância política. Escreveu uma cantata exaltando a fraternidade universal e demonstrando que só a união entre os países colocaria fim à opressão dos desprotegidos pelos poderes maiores. Aos sucessos internacionais correspondia a glória nacional; a música de Verdi acompanhou a transformação na península italiana em Estado independente, livre e unitário. Foi membro correspondente da Academia de Belas-Artes de Paris, deputado em 1861, e senador nomeado por Vítor Manuel, em 1874.

Da sua riquíssima obra, as três mais conhecidas representam exatamente o período final de sua talentosa trajetória. São elas: Aida, composta sob encomenda de Ismael Paxá, do governo egípcio, para a abertura do canal de Suez, Otello, uma tentativa bem sucedida de realizar Shakespeare na dramaturgia sonora e Falstaff, um texto deliciosamente cômico, baseado em As alegres comadres de Windsor, que Verdi reservou para tratar no fim da vida. Em 1895, recebeu do rei o título de Marquês de Busseto. No seu testamento, o octagenário deixou sua grande fortuna a uma fundação para ajudar jovens músicos pobres. Verdi morreu em Milão a 27 de janeiro de 1901.

Verdi também fez fama na política. Sempre foi um intelectual engajado, preocupava-se com os oprimidos e defendia a fraternidade universal. Essa faceta, várias vezes, apareceu em suas composições. Musicalmente, está próximo do Romantismo francês, de que adotou os fortes efeitos cênicos e deformações naturalísticas. Sua música caracteriza-se pela linha melódica harmoniosa e por uma suavidade que é bem um correspondente musical da própria língua italiana. Verdi buscou alcançar o sucesso por todos os meios: imitação de Bellini, argumentos fortemente dramáticos, exploração do patriotismo italiano, do qual era fervoroso adepto.

Primeira fase - Durante muitos anos, as primeiras óperas de Verdi só foram representadas da Itália. Mas por volta de 1920 surgiu, sobretudo na Alemanha, uma "Renascença de Verdi", que descobriu, naquelas obras, notáveis belezas musicais: Nabucco (1842), Ernani (1844), libreto tirado de Hernani, de Victor Hugo, Macbeth (1847), com libreto tirado de Shakespeare, Os bandoleiros (1847) e Luisa Miller, com libretos segundo dramas de Schiller. Nessas obras Verdi já é o maior representante italiano do Romantismo musical.

A ópera popular - Rigoletto (1851), O trovador (1853) e La Traviata (1853) foram os maiores sucessos de Verdi e são até hoje obras muito representadas no mundo inteiro, a verdadeira base do repertório. A crítica reagiu contra essa extraordinária popularidade, considerando as três obras como vulgares, inspiradas por falso romantismo.

A censura da vulgaridade não percebe a extraordinária riqueza e invenção melódica, e a censura do pseudo-romantismo não percebe os elementos realistas. No palco da ópera, até então povoado apenas por grandes figuras mitológicas e históricas, aparece em Rigoletto um corcunda e em La Traviata uma prostituta. No resto, o quarteto no último ato de Rigoletto e o prelúdio instrumental do último ato de La Traviata são trechos magistrais de música absoluta.

Mas antes de tudo, o romantismo das óperas de Verdi não é trivial. Os libretos, nos quais o compositor sempre colaborou, revelam até ao espectador menos musical os ideais de Verdi, não menos elevados que os de um Wagner: a fé na capacidade redentora do amor, a simpatia pelos humilhados e ofendidos, o protesto contra a injustiça do mundo. E é inegável a tragicidade dos grandes finais.

Transição - Essas qualidades todas também se encontram nas obras de transição para a última fase de Verdi: nas óperas fortemente melodramáticas Um baile à fantasia (1859) e A força do destino (1862), na sombria "grande ópera" histórica Don Carlo (1867) e sobretudo na grandiosa Aida (1871), que, por causa do seu acompanhamento orquestral mais elaborado, já começa a ser considerada como começo da última fase.

Última fase - Na verdade, a última fase, da velhice de Verdi, começa com o Requiem (1874), escrito para o primeiro aniversário da morte do grande romancista Manzoni. O Requiem foi, na época, criticado por ser mais música teatral, operística, do que música sacra. Hoje, ninguém contesta a essa música meio apaixonada e meio mística o lugar ao lado de Um requiem alemão, de Brahms.

Depois da longa pausa escreveu Verdi Otello (1887), a mais dramática e a mais trágica das suas óperas, e enfim deu o octogenário sua primeira ópera cómica, Falstaff (1893), cuja humorística fuga final é o resumo de sua grande sabedoria da arte e da vida. As últimas obras de Verdi são as quatro nobres peças sacras: Ave Maria (1889), Stabat Mater (1898), Laudi (1898) e Te Deum (1898).

A posteridade - O enorme sucesso popular que acompanhou toda a vida de Verdi persiste até hoje. Mas mudou a atitude, inicialmente hostil, da exigente crítica musical, graças sobretudo aos esforços de Toscanini, do musicólogo inglês Francis Toye e do romancista austríaco Franz Werfel.

Trovador-Amor sull le rose

Depois dum pequeno recitativo, onde Leonora diz que apesar de tudo está próxima do seu amado, enquanto lembra o seu amor, cantando uma das árias mais famosas desta ópera "D amor sull all rosee" onde diz

Sobre as asas rosadas do amor
vai, suspiro doloroso,
e do infeliz prisioneiro
conforta a tétrica mente
Como um vento de esperança
move-te pela sua cela
e desperta-lhe as recordações
dos nossos sonhos de amor !
Mas não lhe contes desprevenidamente
as penas do meu coração"

Continua a mesma cena, da entrada anterior, ouvindo-se um coro de monges implorando a remissão dos pecados do condenado prestes a morrer "Misere d un alma giá vicina", que fazem Leonora que tremer com este cânticos

"Estes sons, estas preces solenes e funestas
enchem este ar de um terror sombrio
A angustia que me assalta por completo
disputa a minha boca e respiração
e ao coração os batimentos"

mas tem a alegria de ouvir a voz de Manrico dentro do castelo despedir-se da vida e do seu amor implorando-lhe que não o esqueça.

Com o bom gosto bem verdiano, acontece uma passagem magnífica entre as vozes de Manrico, Leonora e os monges, onde se repetem as ideias já aqui descritas e que termina com mais uma caballetta de Leonora " Tu vedrai che amore in terra" onde diz

Verás que amor nesta terra
não existe mais forte que o meu
venceu os destinos em dura guerra
e vencerá a própria morte
Ou com o preço da minha vida
salvarei a tua
ou contigo para sempre unida
para o túmulo irei