segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Tchaikovsky-Abertura Hamlet op.67

A Abertura-Fantasia Hamlet, Op. 67 de Tchaikovsky é uma das obras sinfónicas mais densas, sombrias e psicologicamente ricas do compositor. Embora seja menos famosa do que Romeu e Julieta ou A Tempestade, é talvez a sua leitura mais profunda de Shakespeare, marcada por introspeção, fatalismo e conflito interior.

1. O espírito de Hamlet segundo Tchaikovsky

Tchaikovsky não busca descrever a ação da peça.
Ele capta o estado de alma de Hamlet — o príncipe dilacerado por dúvida, melancolia, indecisão e angústia moral.

Por isso, a música tem:

  • sombriedade trágica,

  • tensão contida,

  • explosões passionais repentinas,

  • uma sensação de destino inevitável.

É uma obra profundamente psicológica.

2. Estrutura emocional (não narrativa)

A peça segue o molde das outras “aberturas-fantasia” de Tchaikovsky, com temas que caracterizam personagens e ideias, mas sem descrever literalmente a trama.

Tema de Hamlet

Logo de início: um tema grave, introspectivo, com tonalidades góticas.
Carrega o peso filosófico e moral da personagem.

Tema de Ofélia

Um lirismo triste, delicado, quase quebrado.
Woodwinds e cordas em movimento suave, como se a fragilidade psicológica e a pureza idealizada se dissolvessem no ar.

Confronto / Luta interior

Tchaikovsky intensifica a textura orquestral com crescendo dramáticos.
Não é uma luta externa, mas a batalha interna de Hamlet.

Desfecho trágico

O final é sombrio, cortante, com a sensação de que a tragédia já estava escrita desde o início.
Não há catarse heroica — há resignação.

3. Por que esta obra é especial?

  • É Tchaikovsky no seu modo mais psicológico e contido, sem o romantismo expansivo de Romeu e Julieta.

  • A orquestração é magistral: jogo de timbres escuros, metais que anunciam destino, cordas que murmuram conflito interior.

  • A música retrata a dúvida existencial — algo raro de ser tratado com tanta profundidade na música sinfónica do século XIX.

4. Curiosidade

Tchaikovsky escreveu esta abertura para uma produção russa de Hamlet e mais tarde adicionou música incidental para a peça. Mas a Abertura-Fantasia Op. 67, tal como se ouve em concerto, é a versão autónoma, mais densa e acabada. 

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