1. O espírito de Hamlet segundo Tchaikovsky
Tchaikovsky não busca descrever a ação da peça.
Ele capta o estado de alma de Hamlet — o príncipe dilacerado por dúvida, melancolia, indecisão e angústia moral.
Por isso, a música tem:
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sombriedade trágica,
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tensão contida,
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explosões passionais repentinas,
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uma sensação de destino inevitável.
É uma obra profundamente psicológica.
2. Estrutura emocional (não narrativa)
A peça segue o molde das outras “aberturas-fantasia” de Tchaikovsky, com temas que caracterizam personagens e ideias, mas sem descrever literalmente a trama.
Tema de Hamlet
Logo de início: um tema grave, introspectivo, com tonalidades góticas.
Carrega o peso filosófico e moral da personagem.
Tema de Ofélia
Um lirismo triste, delicado, quase quebrado.
Woodwinds e cordas em movimento suave, como se a fragilidade psicológica e a pureza idealizada se dissolvessem no ar.
Confronto / Luta interior
Tchaikovsky intensifica a textura orquestral com crescendo dramáticos.
Não é uma luta externa, mas a batalha interna de Hamlet.
Desfecho trágico
O final é sombrio, cortante, com a sensação de que a tragédia já estava escrita desde o início.
Não há catarse heroica — há resignação.
3. Por que esta obra é especial?
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É Tchaikovsky no seu modo mais psicológico e contido, sem o romantismo expansivo de Romeu e Julieta.
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A orquestração é magistral: jogo de timbres escuros, metais que anunciam destino, cordas que murmuram conflito interior.
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A música retrata a dúvida existencial — algo raro de ser tratado com tanta profundidade na música sinfónica do século XIX.
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