sexta-feira, 26 de setembro de 2008

5 de Abril


A segunda sinfonia de Beethoven foi escrita entre 1801 e 1802 e foi a ultima composição do que se convencionou chamar o primeiro período. Foi dedicada ao príncipe Carl Lichnowsky tendo sido em grande parte escrita durante o verão de 1802 em Heiligenstadt perto de Viena.

Neste período, o compositor começava a experimentar os primeiros sinais de surdez, a qual julgava ser incurável, o que o levou a momentos de grande depressão. 

Várias piadas musicais de Beethoven se fazem presentes na obra, como a substituição do tradicional Menuetto pelo Scherzo, no terceiro movimento. Tais inovações chocaram muitos críticos. A estreia deu-se em 5 de abril de 1803, no Theater an der Wien, em Viena, sob regência do próprio compositor. Juntamente foram estreados o Concerto para piano n.° 3 e o oratório Cristo no Monte das Oliveiras.

Um famoso crítico vienense escreveu para o Zeitung fuer die elegante Welt ("Jornal para o Mundo Elegante") que a sinfonia era como "um dragão ferido contorcendo-se horrivelmente, que recusa-se a morrer, mas que contorce-se até suas últimas angústias, e no quarto movimento, sangra até a morte"


quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Beethoven-Sonata Nº7 para piano em ré maior op10 nº3

A interpretação é de Irena Koblar, no The Great Hall da The Slovenian Philharmonic

Com essa sonata, Beethoven voltou a fórmula de quatro movimentos, sendo o primeiro rápido, o segundo lento, o terceiro uma dança e o quarto presto. Essa sonata também foi dedicada à condessa Browne


1º mov-Presto



2ºMov-Largo e Mesto



3º Mov-Minueto-Allegro



4º Mov-Rondo : Allegro


domingo, 21 de setembro de 2008

Tchaikovsky

Pietr Ilyitch Tchaikovsky nasceu a 7 de maio de 1840, em Votkinsk - hoje pertencente à República Autónoma de Udmurtes, Rússia - às margens do Volga. Pelo lado paterno era um russo de quatro costados: seu bisavô lutou contra os suecos, sob o comando de Pedro, o Grande. Seu avô fez brilhante carreira na administração do czar, tornando-se chefe de polícia de Slobodsk, pequeno burgo na Província de Viatka.

Seu pai, o engenheiro Ilya Petrovitch Tchaikovsky, dirigia desde 1837 uma usina siderurgica do governo, que extraia ferro da região e fabricava locomotivas, vagões e navios a vapor. Testemunhas da época o descrevem como um homem robusto e destemido, mas brando, extremamente sentimental, afetivo, sonhador. Quando jovem, tocava flauta e era um apaixonado pela literatura. Aos trinta e dois anos, casou-se com Maria Karlovna Keiser, que lhe deu uma filha, Zinaida, e morreu dois anos e meio depois do casamento.

Em 1833, casou-se com Alexandra Andreivna d’Assier, que emigrara para a Rússia depois da promulgação do Edital de Nantes. Jovem de origem francesa, era muito bonita, majestosa, de olhos fascinantes e mãos extremamente bem desenhadas. Mais tarde, o compositor diria: ‘Jamais vi mãos comparáveis às de minha mãe’. O casal teve seis filhos: Nicolau, Pedro (Pietr), o compositor, Alexandra, Hipólito e os gêmeos Anatólio e Modesto. Este último escreveu uma biografia do irmão, em três volumes, publicadas entre 1900 e 1902.

Da infância do compositor, sabe-se que bem cedo revelou dotes musicais, mas não recebeu educação sistemática nesse sentido; os pais achavam que isso era pouco saudável para uma criança por demais sensível e até mesmo neurótica. Sua governanta, a jovem suíço-francesa Fanny Durbach, que o educou dos quatro aos oito anos, sintetizou sua personalidade dizendo que ele era ‘uma criança de vidro’: extremamente frágil, por qualquer motivo caía em pranto. Aos sete anos, compôs uma pequeno poema em francês, sobre Joana d’Arc, no qual se evidencia a importância do elemento feminino em sua vida. Sabe-se também que se identificou profundamente com a figura da mãe. Sua morte, quando ele tinha quatorze anos, abalou-o seriamente.

Em 1848, o pai mudou-se para Moscovo, onde o compositor sentiu-se muito mal, por não poder viver em condições tão boas como em Votkinsk e por ser tratado como um grosseiro camponês. Consolava-se, no entanto, com as lições de piano que passou a ter com Filipov, um verdadeiro músico; em pouco mais de um ano, seu progresso foi enorme.

Dois anos depois (1850), a família mudou-se para Alapaiev, perto de Nijni-Novgorod (atual Górki), onde o pai do compositor foi dirigir uma usina siderurgica. Nesse mesmo ano, decidiu-se, em conselho da família, que Tchaikovsky deveria tornar-se advogado. Para tanto, faria os exames de ingresso nas classes preparatórias - correspondente ao actual secundário - da Escola de Direito de São Petersburgo. Aprovado brilhantemente, os anos seguintes seriam dedicados parte à preparação para a futura carreira de advogado, parte à música.

Desse período da adolescência destacam-se três acontecimentos que o marcaram para o resto da vida. O primeiro levou ao paroxismo o sentimento de culpa que já se manifestara anteriormente. Irrompida uma epidemia de escarlatina na classe que frequentava, um amigo da família que exercia o papel de tutor de Tchaikovsky, Modesto Alexeievitch Vakar, levou-o para sua própria casa, em vez de deixá-lo em quarentena na escola. Um dos filhos de Vakar, de cinco anos apenas, contraiu a moléstia e faleceu. Tchaikovsky considerou-se culpado pela morte do menino e jamais cessou de se auto-acusar, declarando que desejava morrer. Inúteis foram os esforços da família e do próprio Vakar: Tchaikovsky nunca se perdoou.

O segundo acontecimento foi uma experiência feliz e muito gratificante. Curiosamente, Vakar foi personagem importante também neste caso. Afeiçoando-se ainda mais o jovem Tchaikovsky e querendo atenuar o seu sentimento de culpa, Vakar - passado o período de luto - levou-o ao teatro de ópera para assistir ao ‘Don Giovanni’, de Mozart. O espectáculo o impressionou muito; foi uma verdadeira revelação: ‘A música de Don Giovanni é a primeira que me transtornou. Ela fez nascer em mim um êxtase (...). Transmitiu-me a chave das esferas da beleza pura, onde planam os maiores gênios. (...) Devo à Don Giovanni o ter-me consagrado inteiramente à música’.

O terceiro fato marcante da adolescência de Tchaikovsky, foi a morte da mãe, pela qual nutria verdadeira paixão. Um estudo psicanalítico mostraria como o culto da figura materna provocou no compositor uma tal idealização do feminino que ele passou a se recusar a ver em qualquer mulher uma amante física. Nisso residiriam as raízes da homossexualidade que constituiu o núcleo de sua personalidade.

No mais, a adolescência do compositor transcorreu entre a rígida disciplina da Escola de Direito e estudos de piano com um novo professor, Kundiger, sob cuja influência pensou em escrever uma ópera-bufa, ‘Hipérbole’ - projecto nunca realizado. Kundiger escreveria mais tarde: ‘(...) em momento algum surgiu-me a ideia de que Tchaikovsky pudesse ter o estofo de um músico (...). Sem dúvida, ele era dotado, tinha muito bom ouvido, memória, mãos excelentes, mas, ao lado disso, nada, absolutamente nada que anunciasse um compositor ou mesmo um instrumentista de qualidade (...). Nada de marcante, nada de fenomenal...’.

Em 1859, Tchaikovsky concluiu os estudos jurídicos e passou a trabalhar no Ministério da Justiça. Um ano antes, seu pai perdera toda a fortuna, enganado por uma aventureira. Obrigado a ganhar o próprio sustento, o compositor teve de submeter-se às tarefas rotineiras de um burocrata. Péssimo funcionário, constantemente advertido pelos chefes, sentia-se um pária desprezado por todos, o que, provavelmente, era agravado pelas dúvidas com relação à natureza de sua sexualidade.

Para esquecer e superar esses sentimentos negativos, refugiava-se nos prazeres dos restaurantes, dos teatros, dos salões mundanos. Dançava elegantemente, improvisava ao piano sobre árias da moda, entusiasmando as moças. Por diversas vezes, julgava ter encontrado a mulher de seus sonhos e fazia poéticas declarações de amor; as eleitas não o levavam a sério, como se ele fosse apenas um menino. No teatro, apreciava sobretudo a ópera italiana e os espectáculos de bailado, cuja técnica ficou conhecendo profundamente; anos depois, tornar-se-ia um dos mestres do género.

Em 1861, viajou pela Alemanha, Bélgica e França e, em Setembro do ano seguinte, ingressou no recem fundado Conservatório de São Petersburgo - primeira escola de música oficial da Rússia. Aí, sob a direção de Anton Rubinstein, seguiu os cursos de composição - ministrados por Zaremba -, piano e flauta, além de adquirir noções de órgão. Meses depois, tomou uma decisão fundamental para seu futuro: optando de uma vez por todas pela carreira de músico, abandonou o Ministério da Justiça, muito embora isso significasse uma vida de pobreza e privações. Particularmente importante para chegar a essa decisão foi a influência do amigo Hermann Laroche, que conheceu no conservatório e que, anos depois, se tornaria crítico musical.

A partir de então, o compositor passou a viver de raras lições que podia dar, de magros cachês acompanhando cantores medíocres e de alguns trocados pela tarefa de copiar partituras, o que o obrigava a trabalhar até alta madrugada. Mas, como isso não bastava para suas necessidades, era obrigado a recorrer aos amigos e aos agiotas. Nesses anos de dificuldades financeiras, Tchaikovsky compôs algumas poucas obras, entre as quais merecem menção uma abertura para o drama A tempestade, de Ostrovsky, e a Ode a alegria, sobre texto de Schiller traduzido por Aksakov. Esta última foi executada em 31 de Dezembro de 1865, como peça de conclusão de curso. Embora saudada com entusiasmo pelo amigo Laroche (‘Você é o mais bem dotado dentre todos os músicos russos contemporâneos’), Cesar Cui e muitos outros criticaram-na severamente.

A miséria material juntava-se, assim, a absoluta falta de estima por sua música. Frustrado e abatido, só encontrava momentos gratificantes junto à irmã Kamenka, perto de Kiev. Desde a morte da mãe, Tchaikovsky transferira todo seu sentimento filial para a irmã. Sempre que possível, viajava para Kamenka, onde encontrava a calma e a serenidade que julgava necessárias para compor: ‘(...) a condição absoluta de toda criação artística é a faculdade de se desligar totalmente das preocupações da vida do homem e viver exclusivamente do artista’.

Outros tempos, no entanto, estavam para iniciar em sua vida. O Conservatório de São Petersburgo abarrotara-se de alunos, o que levou Anton Rubinstein a fundar uma outra escola de música em Moscovo. Nikolai Rubinstein, irmão de Anton, foi encarregado de organizá-la, e uma de suas primeiras providências foi convidar alguns dos recém formados para preencher o quadro de professores. Entre eles, Tchaikovsky.

Em Moscovo, já no início de 1866, o compositor foi morar na casa de Nikolai Rubinstein, que o introduziu na melhor sociedade e o pôs em ligação estreita com personagens importantes para seu futuro: o musicólogo Kachkin, o editor Jurgenson, os escritores Ostrovsky, Pissemsky, Plestcheiev e Sologub. Em Março do mesmo ano, uma composição sua era, pela primeira vez, bem recebida:

‘Na sexta-feira, Rubinstein dirigiu uma abertura composta por mim. Foi um grande sucesso. Fui chamado ao palco e - segundo a fórmula consagrada - recebido por uma tempestade de aplausos’. Não se tratava de uma obra de grande valor, mas o fato de Tchaikovsky ter sido tão festejado serviu para lhe dar ânimo por algum tempo e impedir o desespero total.

Pouco tempo depois, começou a compor a Sinfonia n.º 1, tarefa que trouxe de volta toda a sua angústia: ‘Tenho os nervos completamente em frangalhos. Minha sinfonia não progride. (...) Vou morrer logo, bem o sei, antes mesmo de acabar minha sinfonia. (...) Odeio a humanidade e desejo me retirar para um deserto’. O trabalho quase levou-o à loucura, depois de noites e noites em claro, alucinações, complicações intestinais, enxaqueca, todos os sintomas de neurastenia aguda.

Seu médico afirmou que ele estava ‘a um passo da demência’ e proibiu-lhe de escrever uma só nota. Nos primeiros dias de 1867, seu estado ainda inspirava cuidados, mas Tchaikovsky, já concluída a Sinfonia n.º 1, passou a compor a ópera Voievode, sob influência do grupo de compositores nacionalistas de São Petersburgo, principalmente Balakirev. Levada à cena no Teatro de Moscou, a ópera não obteve sucesso algum e o compositor, em estado de grande excitação nervosa, destruiu o manuscrito.

O ano seguinte (1868) foi marcado por seus primeiros contatos com o grupo dos Cinco e pela mal sucedida ligação amorosa com a cantora francesa Désirée Artot. As relações com o grupo dos Cinco originaram-se de um indignado protesto que Tchaikovsky enviou à revista ‘Entreato’, por ter esta publicado uma crítica infamante a Rimski-Korsakov, por ocasião da estréia de sua ‘Fantasia Sérvia’.

Tchaikovsky admirava profundamente a música de seu aluno Rimsky-Korsakov, um dos Cinco, e seu violento protesto sensibilizou os outros membros do grupo, que o convidaram a visitá-los em São Petersburgo. Esse fato, no entanto, não fez dele um novo membro do grupo. Tchaikovsky não admirava especialmente a música dos Cinco, salvo a de Rimsky-Korsakov. Os outros quatro, por outro lado, o consideravam demasiado ocidental. Uma maneira derivada de sua admiração por compositores como Mozart, Beethoven, Weber, Schumann e Meyerbeer. A essa acusação de ‘falso russo’ , no entanto, ele responderia irado, em carta ao irmão Modesto: ‘Eu sou russo, russo, russo até a medula dos ossos’.

Em boa medida devido a inegável influência ocidental - à qual se somou com os anos de sua aproximação de Massenet, Saint-Saëns, e de dois compositores que o deslumbraram, Bizet, com sua Carmen, e Wagner, com O Anel dos Nibelungos - Tchaikovsky sempre foi considerado arquinimigo do nacionalista grupo dos Cinco. E, se é verdade que estava em desacordo com os princípios autodidactas e empiristas do grupo, a atitude de Tchaikovsky nunca foi hostil, salvo no caso de Mussorgsky, que se desprezavam mutuamente.

As relações com Désirée Artot iniciaram-se em outubro de 1868, quando ela esteve em Moscovo como membro de um grupo italiano. Aluna de Pauline Viardot, possuidora de voz volumosa e grande talento dramático, Désirée era capaz de interpretar quase todos os papéis da ópera italiana para soprano lírico, soprano dramático e meio-soprano. O compositor entusiasmou-se com ela: ‘Que cantora, que actriz! (...) Raras vezes vi uma mulher tão amável, boa e inteligente (...)’. Nas férias, passearam juntos por diversas cidades, e, em Novembro do mesmo ano, de volta à Moscovo, o compositor resolveu desposá-la. Mas Désirée não o levou a sério e, um mês depois, casava-se na Polónia com um barítono espanhol. Mais uma vez sua tentativa de firmar-se como homem fracassava.

Os anos seguintes da carreira de Tchaikovsky foram arcados pelo crescente sucesso como compositor e como regente, entremeado por diversas crises em sua vida íntima. Datam desse período suas mais conhecidas obras: a Fantasia-Abertura Romeu e Julieta (1869), a canção Apenas um coração solitário (1869), o Quarteto para cordas n.º 1 (1871), o Concerto para piano n.º 1 (1874), o balé O lago dos cisnes (1876), o Concerto para violino (1878), o (1879), a Capricho italianoAbertura ‘1812’ (1880).

Como regente de suas próprias composições, diversas viagens ao estrangeiro trouxeram-lhe a glória internacional. Entre suas turnês, destaca-se a que realizou durante seis meses (1891-1892) pelos Estados Unidos, onde a sua música gozaria de muito prestígio e seria aplaudida entusiasticamente pelo grande público. Tanto foi o sucesso que, em 5 de maio de 1891, Tchaikovsky inaugurou a que se tornaria uma das salas de concertos mais importantes do mundo: o Carnegie Hall de Nova Iorque. Outra turnê triunfal foi a de 1893, pela Alemanha, Suíça, França, Bélgica e Inglaterra; É a época das honras: o czar lhe outorgou uma pensão de 3.000 rublos anuais e, na universidade de Cambridge, recebeu o título de doutor honoris causa , juntamente com Grieg, Saint-Säens, Bruch e Arrigo Boito.

No plano pessoal, o último terço da vida do compositor foi dominado por um desastroso casamento - que não chegou a se consumar - e pela estranha ligação que manteve com Nadejda von Meck, sua protectora. Em 1877, durante um período de febril actividade em que compôs a Sinfonia n.º 4 e a ópera Eugênio Oneguin, Tchaikovsky conheceu Antonina Ivanovna Miliukova, sua aluna, moça de vinte e oito anos, porte médio, loura, olhos azuis e sorriso sensual.

De inteligência abaixo da média, era, porém, megalomaníaca; de origem social humilde, afirmava não ser filha de seus pais, mas de um grande senhor. Ninfomaníaca, apaixonava-se por qualquer homem que encontrasse, sobretudo quando rico ou célebre. Não se sabe exatamente como os dois se conheceram, mas, logo depois, Antonina enviava ao compositor uma carta apaixonada: ‘Meu primeiro beijo será para você e para nenhum outro. Não posso viver sem você’. Dezenas de cartas como essa ela já tinha enviado a banqueiros, artistas, generais, até mesmo a membros da família imperial. Preocupado com os mexericos sobre a sua vida sexual, Tchaikovsky, ao que tudo indica, quis dar aos outros e a si mesmo uma prova de que era viril, e casou-se com ela no dia 30 de julho de 1877. Três dias depois, escrevia a seu irmão Anatólio: ‘Fisicamente, ela me inspira repugnância total’.

As semanas seguintes foram de intenso sofrimento para o compositor, culminando com uma tentativa de suicídio. Entre 29 de setembro e 5 de outubro (a data exata é desconhecida), entrou nas águas do rio Moscovo, ali permanecendo até que o frio se tornou uma tortura; pretendia contrair uma pneumonia que o matasse. Isso não aconteceu, mas foi acometido de violenta crise depressiva, perdeu a consciência e ficou dois dias em coma. O médico que o atendeu exigiu que mudasse imediatamente de casa e transformasse seu modo de vida.

A ligação com Nadejda von Meck começou em 1876, quando ela tinha 45 anos de idade. Aos dezessete casara-se com Karl Georg-Otto von Meck, proprietário e construtor das duas primeiras ferrovias russas. Von Meck a deixara viúva, com doze filhos e uma imensa fortuna, que ela, excelente mulher de negócios, soubera administrar. Impressionada com a música de Tchaikovsky (‘...graças a vossa música, a vida torna-se mais doce e digna de ser vivida’), desejou ajudá-lo.

Para tanto, aproximou-se de Nikolai Rubinstein, que lhe pintou com cores vivas a pobreza material do compositor. Nadejda respondeu-lhe: ‘Nikolai Grigorievitch, não precisa advogar sua causa com tanta eloquência: sua música já o fez antes e muito melhor’. A partir desse momento, Nadejda von Meck tornou-se protectora do compositor, fornecendo-lhe uma pensão de 6.000 rublos anuais, que lhe permitia viver sem problemas materiais.

A única condição estabelecida foi que os dois jamais deveriam se encontrar, comunicando-se somente por cartas. E em uma destas, Tchaikovsky pinta seu auto-retrato, no que se refere ao amor: "Você me pergunta se eu conheci outro amor que não o amor platónico. Sim e não. Se a questão me tivesse sido colocada de outra forma: ’Você experimentou a felicidade de um amor completo?’, minha resposta seria: não, não e não! Mas pergunte-me se sou capaz de compreender a força imensa do amor, e eu lhe direi: sim, sim e sim!".

E de facto, como haviam combinado, os dois jamais se encontraram, a não ser em apenas três ocasiões, quando puderam ver-se, mas de longe. Essa estranha ligação envolveu também aspectos emocionais. O afecto de Nadejda transformou-se em amor apaixonado, mas silencioso. Por outro lado, o compositor via nela, um anjo protector, uma substituta da mãe.

A relação durou muitos anos, até Outubro de 1890, só terminando devido a intrigas engendradas pelo violinista Pakhulski, um dos membros do círculo de Nadejda. Auxiliado por outros, Pakhulski acabou convencendo-a de que Tchaikovsky era apenas um aproveitador. O rompimento deu-se a 17 de outubro de 1890, com uma carta seca de Nadejda, na qual simplesmente avisava o compositor que, ameaçada pela tuberculose e passando por momentos difíceis, não poderia mais enviar-lhe a pensão; nas entrelinhas, deixava claro que a ruptura era total e definitiva.

O compositor ficou profundamente abalado pela decisão da protectora, mas não por seus aspectos materiais; na época, Tchaikovsky estava no auge da fama e ganhava muito dinheiro, de tal forma que podia sustentar seu irmão Modesto e vários jovens músicos sem fortuna. O que chocou foi o significado afectivo da ruptura. Em carta ao editor Jurgenson, o compositor expressou a sua decepção: ‘(...) meu amor-próprio foi violentamente ferido. Descubro que, na realidade, tudo não passou de um negócio de dinheiro que termina da maneira mais banal e estúpida (...)’. Se isso não bastasse, Tchaikovsky acrescenta: ‘(...) Toda minha fé nos semelhantes, toda minha confiança no mundo ficaram reduzidas a nada. Perdi minha tranqüilidade, e a felicidade que talvez o destino ainda me reservasse ficou envenenada para sempre’.

Profundamente chocado, Tchaikovsky refugiou-se na música e nas viagens, mas outro golpe o esperava. A 18 de abril de 1891, embarcando no porto do Havre para a turnê pelos Estados Unidos, recebeu a notícia da morte da irmã Alexandra. A viagem pelo Novo Mundo, apesar da entusiástica acolhida, é marcada pela angústia da ausência daquela que era sua segunda mãe e confidente.

Na volta (1892), compõe e balé O quebra-nozes e Iolanda, sua última ópera. No ano seguinte, compõe a Sinfonia n.º 6 - Patética. Interpretada pela primeira vez em São Petersburgo, a obra é recebida friamente, inclusive pelos músicos. O compositor, no entanto, tinha outra opinião. Escrevendo ao sobrinho Bob Davidov, ao qual se ligara muito intimamente, afirmou: ‘(...) considero esta sinfonia a melhor de todas as obras que escrevi. Em todo caso, é a mais sincera. Eu a amo como jamais amei qualquer de minhas partituras’.

A 3 de novembro de 1893, alguns dias após a primeira audição da Patética, o compositor, bebendo água não fervida, foi contaminado pela epidemia de cólera que grassava em São Petersburgo. Alguns biógrafos interpretam o fato como uma verdadeira tentativa de suicídio, pois nada custava tomar os cuidados necessários contra a possibilidade de contrair a moléstia. Seja como for, sua saúde piorou rapidamente. No dia seguinte, Tchaikovsky mostrou ter plena consciência de seu estado: ‘Creio que é a morte; adeus, Modesto’. A 6 de novembro, por volta das 3 horas da madrugada, exalou o último suspiro.

Modesto Tchaikovsky, irmão do compositor e seu primeiro biógrafo, foi um dos poucos familiares e amigos que testemunharam seus últimos momentos: 'De repente, seus olhos abriram-se completamente. Uma consciência lúcida, alucinante, brilhava em seu olhar, que nos fitou, um de cada vez, depois dirigiu-se para o céu. No espaço de alguns poucos instantes, um clarão dançou no fundo de suas pupilas e se apagou com o último suspiro. Era pouco mais de 3 horas da manhã...'

Criticado por muitos contemporâneos que achavam sua arte demasiado ocidental, Tchaikovsky se defendeu escrevendo: ‘No que se refere ao carácter geralmente russo de toda minha música, de suas relações com o folclore no terreno da melodia e da harmonia, saiba simplesmente que, desde a mais tenra infância, eu me impregnei da miraculosa beleza dos cantos populares; de tal forma amo apaixonadamente cada manifestação da alma russa que sou um russo cem por cento’.

Tchaikovsky nunca admitiu a música como ‘um jogo de sons sem propósito’. Suas obras são, como ele mesmo as definiu, ‘a confissão musical da alma’. A preocupação com a verdade, a simplicidade e a sinceridade da expressão estão unidas ao tema fundamental de sua música, que é a luta - e o fracasso - do homem para dominar seu destino. Homem sensível, de doentia timidez, sufocado pelo sentimento de culpa e por manias de perseguição, e provavelmente sofrendo de distúrbios sexuais, Tchaikovsky foi essencialmente um solitário, que sempre morou com a irmã em algumas das propriedades de Nadezhda von Meck, mecenas que o manteve mas nunca conheceu. As escassas tentativas de aproximação do sexo oposto terminaram em estrepitosos fracassos.

Se a sua vida particular foi um mistério, não o foi menos sua morte. Durante muito tempo teve-se a versão oficial por cólera, mas pesquisas posteriores revelaram que muito provavelmente foi ‘condenado’ ao suicídio. Seja qual for a verdade, Tchaikovsky deixou uma obra que se tornaria uma das mais populares na música clássica.

Tchaikovsky esteve em contato com os inovadores da música russa, o Grupo dos Cinco. Foi influenciado por suas idéias mas opôs-se ao seu nacionalismo exacerbado, preferindo assimilar influências ocidentais. Seu ídolo é Mozart. Temperamento instável, emotivo, Tchaikovsky criou obra desigual, eclética, que refletiu a sua personalidade. A Sinfonia n.º 1 - Sonhos de inverno (1866) foi prosseguida de uma crise nervosa e alucinações, das quais fora periodicamente vítima. Seu primeiro sucesso internacional foi a abertura-fantasia Romeu e Julieta.

A maior parte de sua obra é instrumental. As obras pianísticas e camerísticas são, com exceções, música leve, de salão. Mas o Quarteto para cordas em ré maior (1872) é justamente famoso pela melancolia do movimento lento - que arrancou lágrimas de Leon Tolstói. Em 1876 escreveu o poema sinfônico Francesca da Remini e o seu primeiro balé O lago dos cisnes que teve sucesso ruidoso e, até hoje, permanente. A Abertura 1812 (1878) é música emocionante e divertida, da mesma forma como a Sinfonia n.º 4 em fá menor (1878).

O Concerto para piano n.º 1 em si bemol menor Op. 23 (1875) é o mais famoso de seus concertos. O Concerto para violino em ré maior Op. 35 (1878) é cativante pela melodias engenhosas e o ritmo vivaz. Na Serenata para cordas (1888) e nas Suíte n.º 3 (1884) e n.º 4 (1888) sente-se, sobretudo, a influência de Mozart. Inspirado pela morte de Rubinstein, que lhe favorecera o lançamento das obras, Tchaikovsky compôs em Roma o Trio para piano em lá menor (1882), que é uma obra séria.

Entre as melhores obras de Tchaikovsky encontram-se as suas óperas. Eugênio Oneguin (1877), tirado da obra homônima de Puchkin, recria a atmosfera dos grandes romances russos do século XIX. A música, de uma nobre melancolia, reúne elementos russos, italianos e franceses. Destaca-se ainda a ópera A dama de espadas (1890), muito representada ainda hoje na Rússia.

Em Frolovskoye escreveu a Sinfonia n.º 5 em mi menor (1888). Suas sinfonias são poéticas e bem trabalhadas. O desespero dos intelectuais russos de 1870-1890 é refletido na mais popular dessas sinfonias, sua última produção, a Sinfonia n.º 6 em si menor - Patética (1893). É o apogeu de seu sentimentalismo melancólico. Seu último trabalho para o palco foi o balé Quebra-nozes, um dos seus maiores sucessos.

A música de Tchaikovsky tem gozado de grande popularidade, sendo considerada expressão autêntica da alma russa por ingleses e americanos e também na Alemanha. A França é menos entusiástica, preferindo Borodin e Mussorgsky. Na Rússia continua Tchaikovsky sendo considerado como o grande compositor nacional, talvez por ser acessível às massas. Foi também muito elogiado por Stravinsky

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Sonata Nº8 para piano em dó menor Op. 13

Sonata para piano em dó menor Op. 13, à qual o próprio mestre deu o nome de Patética, foi publicada em 1799, embora tenha sido escrito no ano anterior, quando o compositor tinha 28 anos de idade.
Beethoven dedicou esta obra ao seu amigo, o Príncipe Karl Lichnowsky O segundo movimento representa uma das páginas mais belas já escritas na música. A melodia suave, acompanhada pelas harmonias que somente poderiam ter saído da pena de Beethoven criam uma atmosfera de tranquilidade e calma impressionante. Aqui a interpretação é de Daniel Barenboim

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Ravel-Bolero


Composta entre Julho e Outubro de 1928 no Tempo di Bolero, moderato assai ("tempo de bolero, muito moderado"), o Bolero tem um ritmo invariável (escrito para = 72, ou seja, com a duração teórica de catorze minutos e dez segundos), e uma melodia uniforme e repetitiva. Deste modo, a única sensação de mudança é dada pelos efeitos de orquestração e dinâmica, com um crescendo progressivo e uma curta modulação em mi maior próxima ao fim, mas retorna ao dó maior original faltando apenas oito compassos do final.

A origem do Bolero provém de um pedido da dançarina Ida Rubinstein, que encomendou a Ravel a criação de um balet a caráter espanhol. Ravel pensou poder arranjar alguns extratos de Iberia, um conjunto de peças para piano de Isaac Albéniz, mas ele não pôde obter os direitos de fazer como desejava, pois Albéniz havia dado os direitos de arranjo a seu pupilo Ferdinand Enrique Arbos.
Em vez disso, Ravel compôs uma nova obra.

A estreia deu-se em Paris, na Ópera Garnier, em 22 de Novembro de 1928 sob direcção de Walther Straram, com coreografia de Bronislava Nijinska e cenários de Alexandre Benois. Uma das dançarinas foi Ida Rubinstein, e a peça causou escândalo devido à sensualidade da coreografia.


Aqui a interpretação é da Orchestre de Paris dirigida por Christoph Eschenbach
  • 1ºparte
  • 2ºparte


Maurice Ravel



Maurice Joseph Ravel nasceu em Ciboure (França), perto de Saint-Jean-de-Luz, Baixos Pirineus, a 7 de março de 1875. Entrou em 1889 no Conservatório de Paris e era ainda estudante quando apareceram suas primeiras composições. Estas criaram para o jovem compositor a fama de revolucionário perigoso, sendo-lhe negada por três vezes a atribuição do Prêmio de Roma.

Sua vida se resumiu depois em trabalho interrompido apenas pela sua participação na I Guerra Mundial. Em 1920 recusou a legião d'Honneur. Um acidente em 1932 provocou em Ravel um trauma de que jamais se recuperou. A memória foi afetada e também a coordenação dos movimentos. Seus amigos organizaram viagens à Espanha e ao Marrocos, a fim de distraí-lo. Operado em 1837, Ravel morreu em Paris a 28 de dezembro de 1937, ainda inconsciente.

A vida de Ravel foi neutra, sem acontecimentos, a não ser as reações provocadas por sua obra, reações que foram contraditórias, pois Ravel foi julgado revolucionário nos círculos tradicionalistas do Conservatório e conservador pelos círculos vanguardistas da década de 1920.

Ravel contribuiu mais para a extensão e abertura do que para a destruição do sistema tonal clássico. Foi inovador em suas harmonias estranhas e clássico pelo firme contorno de suas linhas melódicas. É nesse ponto mesmo que diverge de Debussy, com quem foi, por equívoco, sempre comparado. Enquanto Debussy foi músico impressionista, pela dissolução da linha melódica (tal como os pintores impressionistas dissolveram o traço em proveito da luminosidade), Ravel foi anti-impressionista na construção da melodia.

Não obstante, há uma atmosfera comum a Debussy, Ravel e outros músicos da época: certo esoterismo da linguagem musical, pela procura de novas harmonias, e um certo preciosismo temático, inspirado pelo Simbolismo, além de atração pelo Oriente e pela Espanha. A influência entre os dois compositores foi recíproca. Ravel, longe de ser um epígono, foi personalidade totalmente original. Sua música é a revelação dessa personalidade, reticente e reservada, ao mesmo tempo irônica e sentimental.

Apesar de ter sido inovador em todos os gêneros musicais e na própria estrutura musical, não é um acaso a grande admiração de Ravel pela música pré-classicista francesa e pelos mestres do Classicismo vienense: ele próprio foi algo como o 'último clássico', antes de Stravinsky e a escola de Schönberg realizarem a grande subversão da música.

Entre as primeiras apresentações públicas das obras de Ravel está a abertura Sherazade, uma ópera não realizada. Ravel foi um mestre da orquestração, na descendência direta de Rimski-Korsakov, mas pouco do que fez foi produzido originalmente para a orquestra.

Orquestrou obras para piano, suas e dos outros. É mesmo famosa a sua transcrição para a orquestra dos Quadros de uma exposição, de Mussorgsky, que pode ser considerada como obra original, raveliana. Escrito para orquestra é o célebre Bolero (1927), que se desgastou pela execução repetida. Mas é obra originalíssima pela sua estrutura rítmica e pela concepção melódica, que o próprio Ravel definiu como 'um estudo em crescendo, com o tema obstinadamente repetido'. Ravel também orquestrou sua obra pianística Pavana para uma infanta morta, de que se falará a seguir.

Famoso são dois concertos, o Concerto para piano em ré maior (1931), também conhecido como Concerto para mão esquerda, e o Concerto para piano em sol maior (1932). Ravel tinha uma concepção clássica do concerto, como obra racional, mas não é possível ignorar a dramaticidade inerente ao Concerto para mão esquerda, escrito para o pianista Wittgenstein, que tinha na I Guerra Mundial perdido o braço direito.

Muito se discutiu a estrutura rítmica da música de Ravel, herdeira dos ritmos de dança dos barrocos franceses (Lully, Couperin, Rameau). Na sua obra mais extensa, o balé Dafne e Cloé (1909-1912), reconhece-se tal sensualidade rítmica, enquanto o poema coreógrafo A valsa (1919-1920) é de marcação propositalmente lenta. Avesso à grandiloqüência, Ravel deixou, na ópera, duas obras de singulares humor e fantasia: A hora espanhola (1907) e A criança e os sortilégios (1925).

No setor de música de câmara, Ravel se revela em sua intimidade, em sua secreta tensão; mas também como músico que, sem assumir qualquer radicalidade estrutural, numa elaboração arquitetônica clássica, explora sensualmente as sonoridades raras. São obras-primas o Quarteto para cordas em fá maior (1903), o Trio para piano, violino e violoncelo (1914) e a Sonata para piano e violino (1923-1927). De rara beleza melódica é a Introdução e Allegro (1906), para harpa, cordas, flauta e clarineta, explorando um jogo singular de contrastes harmônicos.

O primeiro êxito de Ravel foi uma peça pianística, Pavana para uma infanta morta (1899), depois severamente julgada pelo autor, mas que persiste, em seu ritmo elegíaco, como uma de suas produções mais memoráveis. Ravel evoluiu, no piano, do impressionismo ainda sensível em Espelhos (1905), para os ritmos mais ásperos de Gaspard de la nuit (1908) em que persistem, no entanto, arabescos cromáticos fantasiosos.

Mestre do piano na linha de artifício caprichoso de Liszt, explorou a espirituosidade em Valsas nobres e sentimentais (1911), mas tendeu depois para o despojamento de O túmulo de Couperin (1917). Seu estilo pianístico explorou uma aguda definição e acabamento formal, de feição neo-clássica.

Grande mestre da orquestra e do piano, Ravel deixou obra vocal restrita, mas de grande singularidade. Sua escolha de textos era, às vezes, surpreendente, e o compositor seguia estritamente o ritmo da própria linguagem verbal. São assim, o ciclo das Histórias naturais (1906), segundo textos de Jules Renard, e as muito posteriores Canções de Dom Quixote à Dulcinéia (1932) sobre textos de Paul Morand. Música de câmara restrita são os ciclos Três poemas de Stéphane Mallarmé (1913) e Chansons madégasses (1925-1926). Além de outros ciclos eruditos, deixou várias transcrições de melodias populares.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Brahms



Johannes Brahms nasceu em Hamburgo (Alemanha) em 7 de maio de 1833. De origem humilde, era filho de Johann Jacob Brahms (1807-1872), um contrabaixista de orquestras populares e de Johanna Henrika Nissen (1790-1865).

Com dez anos de idade já executava concertos musicais, revelando-se ao público como pianista prodígio. Passou a mocidade em extrema pobreza, tocando para comer, em tavernas de marujos.


Estudou seriamente a arte musical com o mestre Marxsen, defensor fervoroso dos clássicos. Fez uma primeira turnê como acompanhante do grande violinista húngaro Joseph Joachim: visitou Liszt em Weimar e, em 1853, em Düsseldorf, conheceu Clara e Robert Schumann.

Brahms entregou algumas composições a Schumann, que ficou entusiasmado, apresentando o jovem de vinte anos ao público como grande esperança da música alemã. Apaixonou-se por Clara e tornou-se amigo íntimo do casal, mas não se casou com ela depois da morte de Schumann (1856).


Brahms encarregou-se da responsabilidade de defender a arte de Haydn, Mozart e Beethoven contra as novas tendências representadas por Liszt e Wagner: a música absoluta contra a música de programa e o drama musical.

Não dispondo do talento literário de Wagner, Brahms não venceu. Mas conquistou, graças ao apoio do crítico Eduard Hanslick, o favor dos conservadores, que, na Alemanha e na Inglaterra, muito o honraram. Foi músico residente do príncipe Detmold (1857), e tentou em vão obter a regência dos Concertos Filarmônicos de Hamburgo.


Em 1863 fixou residência em Viena, cuja vida musical dominou durante trinta anos, levando vida pacata de solteirão e burguês abastado. Tornou-se diretor de associações musicais: Academia de Canto (1863) e Associação dos Amigos da Música (1872).

A primeira audição completa de Um Requiem alemão, em Brema (1868), sob direção do próprio compositor, na presença de Joachim e Clara Schumann, foi provavelmente o maior triunfo de sua carreira. A vida tranqüila em Viena consagrava quase toda a sua atividade à composição, só sendo interrompida por curtas viagens à Alemanha ou Suíça, com fins profissionais ou turísticos.

Universalmente célebre, suas obras eram discutidas em Viena por Hanslick e seus partidários que o contrapuseram aos wagnerianos e a Bruckner, numa absurda rivalidade que Brahms nunca desejou.

Apesar de seu aspecto brutal, o músico era um homem sensível, lógico e liberal. Após uma vida inteira de saúde robusta, Brahms morreu em Viena, em 3 de abril de 1897, aos sessenta e quatro anos, vítima de um cancro no fígado. No funeral, o seu editor Simrock e o compositor Dvorak seguraram as fitas da mortalha.


Estilo - Brahms foi o último dos grandes compositores que deixaram obra imensa. Com exceção da música sacra e da ópera, cultivou todos os gêneros, sobretudo a música instrumental, sem quaisquer associações literárias.

Contemporâneo de Wagner e tendo ainda assistido aos inícios de Mahler e Debussy, é Brahms um ortodoxo da música absolutista, mantendo-se dentro dos limites do desenvolvimento temático de Beethoven. Foi, por isso, chamado de formalista, cuja música seria incapaz de sugerir emoções mais fortes. É nesse sentido que Nietzsche e os críticos wagnerianos franceses lhe condenaram a arte.


Na verdade, hoje geralmente reconhecida, é Brahms um romântico que conseguiu dominar a sua emocionalidade pela adoção das formas severas do classicismo vienense, do qual ele é o último grande representante. Mas, embora passando a vida em Viena, sempre ficou fiel às suas origens: é homem nórdico (o maior compositor do norte alemão) e a melancolia sombria do folclore de sua terra sempre está presente em sua obra.

Evolução - Partindo do romantismo de Schumann, Brahms submeteu-se à disciplina da arte de Beethoven. Mais tarde seu ideal artístico foi a síntese desse classicismo beethoveniano e da polifonia de J.S.Bach.

Chegou a destruir grande parte das obras românticas da mocidade, de modo que a sua primeira obra plenamente realizada é o Concerto para piano n.º 1 em ré menor (1854), ainda muito tempestuoso, embora já tenha sido mais clássica a Sonata para piano em fá menor Op. 5 (1852), talvez a mais importante sonata para piano escrita depois de Beethoven.


O romantismo e o folclore nórdico ainda se sentem no Quarteto para piano em fá menor Op. 34 (1864), talvez a mais impressionante obra de música de câmara do compositor, e em numerosos lieder, gêneros de que Brahms foi mestre:

Do amor para sempre (1868), Solidão no campo, Noite em maio (1868), No cemitério (1886) e muitos outros.

Já liberta de romantismo apresenta-se a maior obra coral do compositor, Um Réquiem alemão (1857), obra inspirada mais em J.S.Bach que em Händel. Da mesma seriedade profunda é a Rapsódia (1869) para contralto, coro e orquestra, cuja letra é um poema de Goethe.


Sinfonias e concertos - Brahms hesitou muito antes de tentar escrever uma sinfonia. Preparou o terreno da arte orquestral com as Variações sobre um tema de Haydn (1873), em que encerrou com surpreendentes artes contrapontísticas.

Veio, depois, a Sinfonia n.º 1 em dó menor (1876), que Hans von Bülow considerava digna de ser chamada "a décima de Beethoven". Foi seguida pela Sinfonia n.º 2 em ré maior (1877) e (1883). Grandes sinfonias em que se destaca um instrumento solista também são o Concerto para violino em ré maior Op. 77 (1878) e o Concerto para piano n.º 2 em si bemol maior (1881).


Música de câmara - De riqueza extraordinária é a música de câmara de Brahms. As Sonatas para piano e violino (3), de grande encanto melódico, já bastaram para desmentir a lenda do formalismo seco do mestre. Mais austeros são, porém, os trios e os quartetos e, sobretudo, os grandes Quinteto para cordas em fá maior (1882) e Quinteto para cordas em sol maior (1890).

Piano e últimas obras - Muito diferente é a obra pianística de Brahms. Não escreveu mais sonatas, depois daquela Op. 5. Voltou ao piano só nos últimos anos de vida, com dois cadernos de Fantasias (1891-1892) e os Intermezzos (3) (1892), que são de um romantismo fantástico. O mesmo estado de alma também domina um dos movimentos do Quinteto para clarineta em si menor (1892), uma das maiores obras de Brahms. Mas só esse movimento, pois os outros pertencem à última fase do mestre, que é severamente bachiana. São desse estilo a Sinfonia n.º 4 em mi menor (1885), que termina com uma grandiosa ciaccona (ou passacaglia) e Quatro canções sérias (1896), sobre versículos bíblicos, de um pessimismo sombrio.

O pessimismo de Brahms, menos filosófico mas mais intransigente que o de Wagner, o folclorismo do mestre e o inconfundível fundo romântico de sua forma severa bastam para desmentir a interpretação errada de sua arte como burguesa.

No entanto, depois da morte de Brahms, essa opinião errônea prevaleceu, principalmente graças ao wagnerismo da crítica musical francesa. Durante muitos anos foi a música de Brahms recusada pelo público (menos na Inglaterra). Mas, nos últimos decênios, sua arte venceu. Brahms é hoje um dos compositores mais executado nos concertos, e isso no mundo inteiro.

Esse fato é de grande importância: pois se trata de um caso de arte extremamente séria, sem concessões ao público, e já se disse que a popularidade (ou não) da música de Brahms é um índice da capacidade de sobrevivência da civilização.

sábado, 6 de setembro de 2008

Beethoven-Moonlight Sonata

A Moonlight Sonata foi composta no verão de 1801 na Hungria, numa propriedade pertencente à família Brunswick e foi publicada em 1802 endo dedicada , a Condessa Giulietta Gucciardi.
A Sonata é uma das sonatas para piano mais popular da criação de Beethoven. É também chamado "The Moonlight Sonata" por Ludwig Rellstab um poeta que, em 1832, teve essa inspiração numa noite nas margens do rio Lucerna.
Alguns biógrafos fazem a ligação entre o amor compartilhado do compositor por Giulietta Guicciardi e as sonoridades da primeira parte.
Wilhelm

Beethoven



Ludwig van Beethoven nasceu em Bonn (Alemanha), em 16 de Dezembro de 1770, descendente de uma família de remota origem holandesa, cujo sobrenome significava ‘horta de beterrabas’ e no qual a partícula van, não indicava nenhuma nobreza.

Seu avô, também chamado Luís, foi maestro de capela do príncipe eleitor de Bonn. O pai de Beethoven, Johann, foi tenor nessa mesma capela. Pretendeu amestrá-lo como menino prodígio no piano, mas era um homem fraco, inculto e rude, que terminou consumido pelo alcoolismo. Beethoven teve infância infeliz.


Aos oito anos de idade apresentou um concerto para cravo. Em uma carta pública de 1780, Christian Gottlob Neefe afirmava que o seu discípulo, Beethoven, de dez anos, dominava todo o repertório de J.S.Bach e o apresentava como um segundo Mozart.

Beethoven fez os primeiros estudos em Bonn sob a orientação de Neefe (1781), tornando-se organista-assistente da capela eleitoral (1784). Iniciou sua carreira de compositor com alguns lieder, três sonatas para piano e uns quartetos para piano e cordas. Sua fama começou a transcender e o príncipe eleitor o enviou para Viena. Maximiliano, arquiduque da Áustria, subsidiou seus estudos.

Foi uma viagem pouco proveitosa, pois Beethoven teve de voltar em pouco tempo para assistir a morte da mãe. Mesmo assim, chegou a conhecer Mozart já doente, absorto pela composição de Don Giovanni. Em Bonn, Beethoven atravessou um período de grandes dificuldades financeiras.

Pouco tempo depois, Haydn leu algumas de suas obras e convidou a voltar para Viena para seguir ‘estudos vigiados’ com ele. Também tomou lições com Albrechtsberg e Salieri. Exibia-se como pianista virtuose nos salões aristocráticos. Apesar das suas maneiras rudes e do seu republicanismo ostensivo, sempre esteve Beethoven generosamente protegido pela alta sociedade vienense (o arquiduque Rodolfo, as famílias Brunswick e Lichnowsky, o conde Rasumovsky etc.).

Melhorou de posição social e formação musical pela ajuda de mecenas, que em 1792 lhe possibilitaram a mudança definitiva para Viena.


Em 1795 Beethoven publicou o sua primeira obra, integrada pelos Trios para piano Op. 1 (3). Obras que, como as Sonatas para piano Op. 2, mostravam a personalidade (embora não ainda o génio) de seu criador. Esse gênio começou a se revelar só anos depois, em seu Op. 7 e Op. 10.

Os últimos anos do século XVIII parece ter sido a época mais feliz da desditosa vida de Beethoven: o sucesso profissional, a proteção e lisonja dos poderosos, as amizades profundas, talvez o amor. Embora várias figuras femininas tenham cruzado a sua vida, provavelmente a única realmente importante tenha sido a ‘jovem amada’, Giulietta Guicciardi, cujos 17 anos e encanto fútil conquistaram Viena, e a quem o compositor dedicou a sua Sonata ao luar.

Também foi nessa época (1801) que se instalou em Beethoven uma crescente surdez, que em pouco tempo se tornaria irreversível. Desesperado, Beethoven redigiu em Heiligenstadt, então subúrbio de Viena, seu testamento, decidido a suicidar-se. A crise foi, porém, superada e, sendo parcial sua surdez, o compositor ainda pôde continuar a sua carreira. Como ele mesmo descreveu, ‘foi a arte, e só a arte, que me salvou’. Beethoven utilizava uma corneta para atenuar sua surdez, antes de ter de usar os cadernos de anotações.

Foi o tempo de sua única ópera, Fidélio, exaltação do amor conjugal, das grandes Sonatas para piano - Patéticae Apaixonado, dos monumentais concertos, dos quartetos para cordas do período médio; o tempo, principalmente, das obras que lhe deram maior popularidade, suas revolucionárias sinfonias e, em especial, a Sinfonia n.º 5. Os membros da aristocracia austríaca, lhe concederam em 1809, uma pensão vitalícia. Sua carreira pública chegou ao ponto culminante em 1814, por ocasião do Congresso de Viena.

Depois desses sucessos, a surdez começou a piorar, isolando o mestre quase totalmente do mundo.

A carência afetiva o levou a se trancar cada vez mais dentro de si mesmo. Seus últimos anos também se viram amargurados pela saúde precária, dificuldades financeiras e, principalmente, pelos problemas com seu sobrinho Karl, os quais, indiretamente, foram a causa da sua morte: após uma discussão, Beethoven saiu de casa no meio de uma tempestade, contraindo uma pneumonia que pôs fim a seus dias em 26 de março de 1827.

O cortejo fúnebre contou com uma impressionante multidão de 20.000 pessoas, coisa inusual em uma Viena que produzia gênios e depois, como com Mozart, dava-lhe as costas.


Beethoven impressionou os contemporâneos, além de sua arte, pelas manifestações rudes de sua independência pessoal. Em torno de sua forte personalidade formaram-se lendas, destinadas a salientar os sofrimentos e a grandeza do homem titânico, chegando a falsear a perspectiva biográfica. A famosa carta (sem data e sem endereço) à ‘amada imortal’ não tem maior importância para a interpretação da obra, porque na arte de Beethoven não é sensível o elemento erótico. Errada também é a opinião de ter o mestre sofrido pela incompreensão dos contemporâneos: teve, em vida, os maiores sucessos e foi admirado como nenhum outro compositor.

Também teve notável êxito material e, chegou a ditar preços aos seus editores. Mas, sobretudo, foram mal compreendidos os efeitos de sua doença. Até 1814, a surdez não foi total, permitindo a elaboração de numerosas obras-primas musicais; depois dessa data, foi a própria surdez que abriu ao compositor as portas de uma nova arte, toda abstrata. A grandeza de Beethoven não foi, prejudicada pela surdez, e sua vida não se resume numa luta heróica contra a doença.

As obras de Beethoven são intensamente romântica pela extremo subjetivismo, no qual tem lugar a tragicidade patética e o júbilo triunfal, o idílio e o humorismo burlesco, o idealismo eloqüente e a música profunda. Mas a forma dessas manifestações é a do Classicismo vienense de Haydn e Mozart; são cuidadosamente elaboradas e severamente disciplinadas. Essa obra romântica é, paradoxalmente, a mais clássica que existe.

Beethoven viu-se admirado até a idolatria pelos seus contemporâneos. Sua influência sobre toda a música do século XIX foi avassaladora. Também as obras difíceis, as últimas sonatas e os últimos quartetos foram, enfim, compreendidos, e a imensa popularidade de Beethoven chegou a estender-se à Sinfonia n.º 9. Mas no fim do século começaram a surgir as primeiras vozes cépticas.

Achou-se que Beethoven tinha escrito sinfonias, sonatas e quartetos os mais perfeitos, de modo que sua arte significava um fim, embora glorioso. Debussy ousou manifestar aversão à eloquência do mestre.

Na época moderna já não existem compositores beethovenianos. Sua influência parece terminada. Stravinsky encontrou palavras duras contra o subjetivismo e o emocionalismo do mestre, o que não o impediu de declarar a fuga para o Quarteto de cordas Op. 133 (1825), como a maior manifestação da música ocidental.


Diferente de muitos outros compositores, Beethoven não foi menino prodígio. Teve evolução lenta. À sua primeira obra escrita e publicada em Viena deu o nome de Trios Op. 1, fazendo entender, com razão, apenas interesse biográfico e histórico.

Também é necessário descontar algumas obras escritas por encomenda e elaboradas sem inspiração, como a Sinfonia de batalha, que foi composta em 1813 e apresentada em Viena em 1816 com sucesso retumbante mas efêmero.


Resta a grandiosa evolução, dos Trios Op. 1 até o último Quarteto Op. 135 (1826), evolução que não tem igual na história da música. O musicólogo russo Wilhelm von Lenz, considerando 1802 e 1814 como datas decisivas na vida do mestre, formulou a tese de três fases da criação de Beethoven: mocidade, maturidade, últimas obras. Embora cronologicamente inexata (algumas obras não se enquadram bem no esquema) a tese de Lenz é até hoje geralmente aceita.

Primeira fase - A primeira fase, de 1792 até 1802, caracteriza-se pelo frescor juvenil, pelo brilho virtuosístico, pelo estilo galante do séc. XVIII, embora interrompida por tempestades pscológicas bem pré-românticas e acessos de melancolia. Galante, naquele sentido, é o famoso Septeto Op. 20 (1799-1800); despreocupadamente alegre é a sua Sonata para piano e violino em fá maior Op. 24 - Primavera (1801); bem mozartiano ainda é o Concerto para piano n.º 3 em dó menor (1800).

A melancolia manifesta-se na Sonata para piano n.º 3 em ré maior Op. 10 (1796-1798), nos Quartetos Op. 18 (6) (1798-1800) e na Sonata para piano e violino n.º 2 em dó menor Op. 30 (1802), mas sobretudo na célebre Sonata para piano n.º 2 em dó sustenido menor Op. 27, à qual a posteridade tem dado o apelido de Sonata ao luar. Obra capital do pré-romantismo beethoveniano é a Sonata para piano em dó menor Op. 13, à qual o próprio mestre deu o nome de Patética (1798). A evolução do mestre evidencia-se na diferença sensível entre a Sinfonia n.º 1 (1799) e a Sinfonia n.º 2 (1802).

Duas obras das mais conhecidas de Beethoven não se enquadram bem no esquema de Lenz. Em 1803, já em plena segunda fase, a famosa Sonata para piano e violino em lá maior Op. 47 - Kreutzer é o exemplo mais brilhante da primeira fase. Por outro lado, já em 1802, a Sonata para piano n. 2 em ré menor Op. 31 manifesta toda a tragicidade do gênio beethoveniano.

Segunda fase - A segunda fase, a da plena maturidade, abre em 1803 com a colossal Sinfonia n.º 3 em mi bemol maior - Eroica. Do mesmo estilo trágico são, em 1804, a sombria Sonata para piano em fá maior Op. 57 - Apaixonado, e o segundo ato da única ópera de Beethoven, Leonora (mais tarde rebatizada Fidélio).

Mas ao mesmo tempo, em 1804, escreveu o mestre a triunfal Sonata para piano em dó maior Op. 53 - Aurora (ou Waldstein) e, depois de duas aberturas menos bem logradas para a ópera, a Leonora n.º 3 (1806), que conquistou a sala dos concertos, talvez a mais gloriosa de todas as aberturas.

Do ano de 1806 também são o intensamente lírico Concerto para piano n.º 4 em sol maior Op. 58, o majestoso Concerto para violino em ré maior Op. 61, e os Quartetos Op. 59, em fá maior, mi menor e dó maior, dedicados ao conde Rasumovsky, os quartetos mais brilhantes que existem.


Depois as obras-primas seguem-se sem interrupção: a trágica Sinfonia n.º 5 em dó menor (1805-1807), a mais famosa de todas, e a não menos trágica abertura Coriolano (1807), a idílica Sinfonia n.º 6 em fá maior - Pastoral (1807-1808), a sombria Sonata para piano e violoncelo em lá maior Op. 69 (1808) e o Trio para piano em ré maior Op. 70 (1808), de profunda melancolia; em 1809, a Sonata para piano em mi bemol maior Op. 81 - Os adeuses. Em 1810, a música de cena (incluindo grandiosa abertura) para a peça de Egmont, de Goethe; em 1812, a Sinfonia n.º 7 em lá maior, a mais intensamente poética de todas, a humorística Sinfonia n.º 8 em fá maior (1812) e o justamente famoso Trio para piano em si bemol maior Op. 97 - Arquiduque; enfim, em 1812, a última Sonata para piano e violino em sol maior Op. 96, despedida poética da segunda fase.

Terceira fase - Depois das festas de 1814, Beethoven, agora completamente surdo, retira-se para a solidão, elaborando uma música totalmente diferente, abstrata, interiorizada.

O pórtico da terceira fase é a gigantesca Sonata para piano em si bemol maior Op. 106 - Sonata para piano (1818). Seguem, 1820-1822, as três últimas sonatas para piano, em mi maior Op. 109, em lá bemol maior Op. 110 e em dó menor Op. 111. A última, Op. 111, seria - dir-se-ia - o sacrossanto testamento pianístico de Beethoven, se não tivesse escrito, em 1823, as 33 Variações sobre uma valsa de Diabelli Op. 120. Sobre um tema banal, a maior obra de variações da literatura musical.


Do mesmo ano de 1823 são a Sinfonia n.º 9, que o coral do último movimento, que assustou os contemporâneos e é hoje a obra mais popular do mestre, e a gloriosa Missa solene, obra de religiosidade livre de um grande individualista. Em 1824 inicia Beethoven o ciclo dos últimos quartetos: em mi bemol maior Op. 127, em lá menor Op. 132 (1825), em si bemol maior Op. 130 (1825), do qual foi separada a Fuga final Op. 133. Enfim, em 1826, o Quarteto em dó sustenido menor Op. 131, mais uma dessas obras gigantescas para o pequeno elenco de quatro instrumentos de cordas, e o comovente último Quarteto em fá maior Op. 135 (1826). São obras de inigualável profundeza artística e grandes documentos humanos.

  • a 26 de Março de 1827,morreu i maior vulto da história da musica  estava a trabalhar numa nova sinfonia, assim como projectava escrever um Requiem. Ao contrário de Mozart, que foi enterrado anonimamente em uma vala comum (o que era o costume na época), 20 000 cidadãos vienenses enfileiraram-se nas ruas para o funeral de Beethoven, em 29 de março de 1827. 

  • Franz Schubert, que morreu no ano seguinte e foi enterrado ao lado de Beethoven, foi um dos portadores da tocha. Depois de uma missa de réquiem na igreja da Santíssima Trindade (Dreifaltigkeitskirche), Beethoven foi enterrado no cemitério Währing, a noroeste de Viena. Seus restos mortais foram exumados para estudo, em 1862, sendo transferidos em 1888 para o Cemitério Central de Viena.

Há controvérsias sobre a causa da morte de Beethoven, sendo citados cirrose alcoólicasífilishepatite infecciosaenvenenamentosarcoidose e doença de Whipple.


 Amigos e visitantes, antes e após a sua morte haviam cortado cachos de seus cabelos, alguns dos quais foram preservadas e submetidos a análises adicionais, assim como fragmentos do crânio removido durante a exumação em 1862.


 Algumas dessas análises têm levado a afirmações controversas de que Beethoven foi acidentalmente levado à morte por envenenamento devido a doses excessivas de chumbo à base de tratamentos administrados sob as instruções do seu médico




quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Beethoven-Triple Concert

Beethoven Concerto em dó para Violino , Cello e Piano

O concerto é dividido em três movimentos :
Allegro
Largo
Rondo alla polacca

Aqui a interpretação é da Berliner Philarmoniker dirigida por Karajan com
David Oistrakh, violino
Mstislav Rostropovich, cello.
Sviatoslav Richter, piano.

como solistas

Beethoven-Piano Concerto nº1 em dó maior op.15


Murray Perahia toca Beethoven - Piano Concerto No. 1 em dó maior Op. 15

acompanhado pela London Symphony Orchestra com Sir Georg Solti na condução

A primeira apresentação foi em Praga em 1799 , com o próprio Beethoven ao piano.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Rachmaninov



Sergei Vassilievitch Rachmaninov nasceu em 1.º de abril de 1873, em Oneg, na província de Novgorod (Rússia). Proveniente de uma família aristocrática, Rachmaninov teve uma educação refinada, principalmente no campo musical.

Aos sete anos estudava música com Anna Dmitrieva Ornazkaia.

Posteriormente, estudou nos conservatórios de São Petersburgo e de Moscovo, aonde teve aulas de piano com Nikolai Zverev, de contraponto com Serguei Taneiev e de harmonia e composição com Anton Arensky. Rachmaninov graduou-se nesse conservatório, como compositor e pianista com distinção.


O jovem compositor também estudou música com um familiar, Alexander Ziloti, antigo aluno do célebre Liszt. A herança musical transmitida por Ziloti foi assimilada por Rachmaninov que, no entanto, a desenvolveu imprimindo-lhe um estilo próprio. Outra das influências determinantes no estilo do jovem Rachmaninov foi a linguagem musical do compositor russo Tchaikovsky.

Uma das primeiras obras de destaque foi Aleko.

Rachmaninov tinha, então, dezenove anos, e compôs essa obra como trabalho final de formatura, apresentando-o no conservatório de Moscovo. Aleko é uma ópera em um acto, baseada num libreto de Nemirovich-Danchenko e inspirada no poema do célebre escritor Aleksander Puchkin, que estreou em 9 de maio de 1893 no teatro Bolshoi.


Um ano depois escreveu a Morceaux de Fantasie Op. 3, considerada uma obra delicada e de refinada sonoridade. Dos 4 concertos para piano que Rachmaninov escreveu durante a sua carreira, o primeiro foi composto em 1891, ou seja, quando o compositor tinha, somente, dezoito anos. O Concerto para piano n.º 1 em fá sustenido menor Op. 1, estreou em Moscovo no ano seguinte, tendo Rachmaninov como solista e ao prestigioso Vassily Ilich Safonov como regente.

Apesar de não possuir a densidade presente nos Concertos para piano n.ºs 2 e 3, o Concerto para piano n.º 1 anunciava a criatividade melódica e a escrita pianística que marcaram a obra de Rachmaninov.

Pouco tempo depois de deixar o conservatório de Moscovo, Rachmaninov compôs uma obra ambiciosa, o poema sinfónico O rochedo, escrito em 1893.

Baseava-se num poema de Lermontov e num conto de Tchekov - a quem Rachmaninov dedicou a partitura -, intitulado Durante a viagem, que narrava o breve idílio entre um homem de meia idade e uma jovem em uma pousada.


Durante os anos que se seguiram, continuou atuando como intérprete - conquistando a admiração em todos os auditórios que se apresentava - e como compositor. No entanto, a sua carreira como compositor recebeu um forte impacto. Em 1897, a estreia de sua Sinfonia n.º 1 em ré menor foi um grande fracasso. Decepcionado, Rachmaninov decidiu parar de compor e, durante três anos, trabalhou, unicamente, como pianista e diretor.

Nesse mesmo ano, foi nomeado regente da ópera de Mamontov, em Moscovo, aonde conheceu o baixo Fiodor Ivanovitch Chaliapin, um dos cantores-actores mais conhecidos de sua época. Ambos estabeleceram uma grande amizade que, junto ao tratamento iniciado com o doutor Niels Dahl, ajudou-o a superar os temores de voltar a compor.

Embora Rachmaninov já houvesse abordado o gênero religioso em um coro pouco representativo, a primeira obra sacra importante de seu repertório é, indubitavelmente, a Liturgia de São João Crisóstomo, partitura para solistas e coro à capela, que o músico compôs em 1910, para o rito ortodoxo.

A tradição litúrgica russa havia sofrido um estancamento importante durante quase todo o século XIX, devido a um decreto que proibia o seu culto ou limitava às obras que as autoridades considerassem aceitáveis.


Quando, em 1878, Tchaikovsky compôs uma obra também intitulada Liturgia de São João Crisóstomo, teve que enfrentar o santo sínodo e, desde essa época, outros compositores, também, passaram a compor obras nesse gênero.

Entre esses encontrava-se Alexander Tikhonovich Gretchaninov, autor de uma composição com mesmo nome. A obra de Rachmaninov, posterior aos dois autores citados, transcendia, de certo modo, o seu destino, apesar de respeitar ao pé da letra a liturgia eslava, por um certo sabor profano que envolvia a obra do princípio ao fim.


No período anterior à I Guerra Mundial, Rachmaninov viveu, talvez, seus momentos mais felizes como pianista, regente e compositor.

Como compositor, junto às obras orquestrais e vocais, havia desenvolvido uma importante obra pianística, com os esplêndidos cadernos intitulados Prelúdios Op. 23 (10) - compostos entre 1901 e 1903 -, Prelúdios Op. 32 (13) (1910), Sonata n.º 1 em ré menor (1907), Estudos Op. 33 (6) (1911) e os Estudos Op. 39 (9) (1917).


Como intérprete era reconhecido em todo o mundo e suas turnês, muito esperadas. No entanto, em 1911, aceitou o cargo de diretor da Orquestra Filarmônica de Moscovo e, durante dois anos, suas obrigações o mantiveram por mais tempo na capital russa. Ao terminar essa etapa, viajou por vários países da Europa e voltou para casa com algumas belas composições.

Uma delas, Os sinos Op. 35, era uma proposta original. Tratava-se de uma sinfonia composta para orquestra, coro, três vozes solistas - uma soprano, um tenor e um barítono. Rachmaninov a escreveu em Roma, durante 1913, baseando-se no poema homônimo de Edgard Allan Poe, cujo texto o músico havia conhecido pela tradução russa de Balmont.

Do mesmo modo que o poema, a partitura apresentava quatro momentos distintos, representando diferentes etapas da vida humana, por meio de uma simbologia que dava título à composição - quatro tipos de sinos, cujas sonoridades Rachmaninov tentou reproduzir por intermédio da orquestra.


Dessa maneira, o primeiro movimento, Os sinos de prata, um allegro ma non tanto para orquestra, tenor e coro, representava o nascimento; enquanto o segundo, Doces sinos de casamento, era um lento para orquestra, soprano e coro que ilustrava uma cerimônia nupcial. O terror constituía o tema principal de Os fortes sinos de alarme, um presto para coro e orquestra que pretendia refletir o amadurecimento. O último movimento, As campanas fúnebres de ferro, era um lento para barítono, coro e orquestra que retratava a morte.

Rachmaninov considerava Os sinos a sua obra mais primorosa; e asiim a entendeu o público que estava presente em sua estréia em Moscou, em 1914, e converteu o acontecimento em um grande triunfo.


Em 1915, Rachmaninov compôs o seu grande ciclo litúrgico. O título da obra era Vigília e, junto à Liturgia de São João Crisóstomo, foi uma das poucas obras religiosas que o compositor escreveu ao longo de toda a sua trajetória. A

estréia da obra Vigília de Páscoa, uma brilhante partitura para solistas e coro à capela, produziu-se no mesmo ano de sua composição, e foi interpretado pelo coro da igreja ortodoxa russa.


À diferença da primeira obra religiosa de Rachmaninov, que denotava a intenção de um compositor mais preocupado com a linguagem musical profana do que com a adequação do espírito da partitura à sua finalidade litúrgica, Vigília de Páscoa apresentava uma integração total com o seu objetivo.

Isso foi possível graças à utilização, por parte do artista, de uma série de melodias antigas, procedentes da igreja ortodoxa - em concreto, dez das quinze que compunham a obra -, assim como de recursos harmônicos, próprios das músicas litúrgicas tradicionais russas.


Muitos musicólogos coincidiram em estabelecer que o período compositivo mais criativo de Rachmaninov termina com o exílio. Embora o compositor tenha escrito belas obras depois de 1917, destacou-se, sobretudo, como intéprete, e sua produção musical diminuiu significativamente.

Rachmaninov abandonou a Rússia, aproveitando uma turnê de concertos pela Suécia, pouco depois da Revolução de Outubro, dois meses depois dos conflitos que levaram o gigante europeu do leste a iniciar um processo que o distanciaria do resto do continente.

O músico terminou nos Estados Unidos, aonde permaneceu até 1928. Depois de uma prolongada estada na França e na Suíça, regressou aos Estados Unidos em 1935, aonde fixou residência até a sua morte.


Rachmaninov foi considerado em sua época como um dos virtuoses mais brilhantes e suas atuações, às vezes polêmicas devido à interpretação que fez de obras clássicas, foram seguidas com devoção. Ao mesmo tempo, as gravações realizadas durante sua fase como pianista e director de orquestra constituíram durante muitos anos uma referência importante, embora, como no caso de suas interpretações, algumas delas tenham sido julgadas como polêmicas.

Concluído em 1926, o Concerto para piano n.º 4 pode ser considerado o menos interessante de seus concertos. O músico, que iniciou a sua composição antes de deixar o seu país, deixou-se influenciar pela a música americana à hora de concluí-lo e apresentá-lo, na Filadélfia, em 18 de março de 1927 sob a regência de Leopold Stokovsky.

Em 1931, Rachmaninov escreveu as Variações sobre um tema de Corelli, partitura original para piano, e, em 1934, colocou toda a sua experiência como virtuose na composição de uma obra que pretendia render homenagem àquele que ele considerava o mais brilhante de todos os intérpretes virtuoses da história da música romântica, Paganini, em uma obra intitulada Rapsódia sobre um tema de Paganini Op. 43. Tratava-se de um ciclo de variações para piano e orquestra que o músico russo escreveu e estreou em 1934, em Baltimore, nos Estados Unidos, sob direção de Leopold Stokovsky.

Essa é a última obra concertante do compositor e pode ser consiedrado como seu quinto concerto para piano. Cinco anos depois, o coreógrafo Fokine, com o consentimento do autor, criou para a obra o balé Paganini, estreado no Convent Garden de Londres.


A Sinfonia n.º 3 em lá menor Op. 44 foi escrita em 1936 e estreou no mesmo ano, na Filadélfia. Depois de A ilha dos mortos, escrita em 1909, Rachmaninov voltou a compor uma obra para orquestra. A linguagem musical da Sinfonia n.º 3 permite entrever a influência americana e a modernidade que caracterizam as últimas obras deste compositor.

Sua seguinte obra orquestral, e também a última, é Danças sinfónicas. Escrita em 1940, estreou um ano depois sob a regência de Eugene Ormandy. A obra, cujo nome original era Danças fantásticas, teve parte de sua música aproveitada de Os citas, um balé iniciado em 1915 que não chegou a ser concluído. Parte do seu último período compositivo, Danças sinfônicas é obra de profundo lirismo que revive a imagem tradicional de um Rachmaninov pós-romântico.

Rachmaninov faleceu em Beverly Hills, na Califórnia, em 28 de março de 1943, distante de sua terra natal que, apesar de muitos anos de exílio, nunca chegou a esquecer.

Embora em 1931 as autoridades russas tenham proibido a reprodução de sua música naquele país, por considerá-la perigosa e burguesa, após a sua morte iniciou-se um movimento por recuperar a obra de Rachmaninov como parte do patrimônio russo. Sua música passou, a partir de então, a se impor com força nos círculos musicais soviéticos.