quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Sibelius-Cantata da Coroação JS 104

A Cantata para a Coroação do Imperador Nicolau II às vezes referida como Cantata da Coroação JS 104, é uma cantata de dois movimentos para mistura coro e orquestra escrita em 1896 pelo compositor finlandês Jean Sibelius. 

 É cronologicamente a segunda das nove cantatas orquestrais de Sibelius e pertence a uma série de três dessas peças - junto com a Cantata Promocional de 1894 (JS 105) e a Cantata Promocional de 1894 (JS 106) - que ele escreveu por encomenda de seu empregador na época, a Imperial Alexander University (hoje Universidade de Helsinque).

 Sibelius compôs a cantata em homenagem à adesão de Nicolau II ao trono russo, porque a Universidade, como instituição financiada pelo Estado, era obrigada a prestar homenagem ao novo soberano. (Na época, a Finlândia era um Grão-Ducado na posse do czar.) 

Estrutura, instrumentação e texto

  • A cantata divide-se em dois movimentos:

    1. “Terve nuori ruhtinas…” (Allegro) – “Salve, jovem príncipe…

    2. “Oikeuden varmassa turvassa…” (Allegro) – “Na segura proteção da justiça

  • Instrumentação: orquestra modesta (madeiras, trompas, trompetes, trombones, percussão de efeito, cordas) + coro misto.

  • Texto em finlandês, de Paavo Cajander. 

  • Duração aproximada: cerca de 17-18 minutos segundo gravações.


Significado e particularidades

  • A obra é especialmente interessante por vários motivos:

    • Representa um momento histórico e político: a Finlândia sob o domínio russo, a necessidade de demonstrar lealdade institucional ao novo czar. Sendo assim, o caráter é de celebração patriótica/cerimonial.

    • Para Sibelius, era uma oportunidade de compor para coro e orquestra, num momento em que ainda experimentava formas e estilos antes das suas obras “maturas”.

    • Apesar do caráter aparentemente “oficial”, a música revela já traços do estilo sibeliano: colorido orquestral, atenção ao coro como massa sonora, e certo lirismo embutido mesmo num contexto cerimonial.

    • A obra permaneceu pouco conhecida fora da Finlândia, em parte pela sua finalidade local-institucional, mas tem valor como peça de transição na trajetória de Sibelius.

Se a ouvir, pode seguir estas sugestões de atenção:

  • No primeiro movimento, repare no coro em uníssono ou quase, como uma “voz da comunidade”, e como a orquestra vai tecendo efeitos de fanfarra ou solene.

  • No segundo movimento, note como o texto “na segurança da justiça” se traduz musicalmente: o uso de andamento “Allegro” mas também de massas orquestrais e corais que evocam firmeza e solenidade.

  • Compare a sensação de “obra de ocasião” (ou seja, algo cerimonial) com a sensibilidade musical: ver onde Sibelius ultrapassa o puro protocolo e imprime personalidade.


  • Críticas/pontos de atenção

  • Porque foi encomendada para um evento específico, a obra não foi talhada para o repertório independente desde o início — pode parecer “cerimonial demais” a quem espera a profundidade das sinfonias de Sibelius.

  • A qualidade da edição e das gravações pode variar, já que não é das obras mais frequentemente interpretadas fora da Finlândia.

  • O facto do texto estar em finlandês pode limitar a imersão para quem não domina a língua — mas a música cumpre bem por si só.


A peça estreou em 2 de novembro de 1896 durante uma cerimônia em Helsinque, com Sibelius regendo a Sociedade Filarmônica de Helsinque e um coro amador.

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