sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Shostakovitch-Sinfonia nº09 em mi bemol maior op70

Em 1945, a 3 de Novembro Shostakovich estreia em Leninegrado a sua Sinfonia N. 9 em mi bemol maior Op. 70interpretado pela Leningrad Philharmonic Orchestra sob direcção de Evgeny Mravinsky 

Esta siinfonia ,  é uma das obras mais ambíguas, irónicas e, em certo sentido, mais “perigosas” que ele escreveu, se considerarmos o contexto político da sua criação.

Contexto histórico

Shostakovich compôs esta sinfonia no fim da Segunda Guerra Mundial, quando a União Soviética celebrava a vitória sobre a Alemanha nazi. Todos — especialmente o regime de Stalin — esperavam uma grande sinfonia triunfal, monumental, como a Nona de Beethoven: uma obra que glorificasse o herói soviético e o poder do Estado.

Em vez disso, Shostakovich entrega... uma sinfonia breve, leve, sarcástica e quase “mozartiana” no tamanho e na instrumentação. Dura cerca de 25 minutos, sem coros, sem grandiloquência, sem heroísmo explícito.

Caráter e estrutura

A obra tem cinco andamentos:

  1. Allegro — Vivo, brincalhão, com humor de música de salão, mas com aquele toque de ironia nervosa típico de Shostakovich.

  2. Moderato — Um momento lírico e introspectivo, quase melancólico, com o clarinete a tecer frases delicadas sobre uma base contida.

  3. Presto — Um scherzo saltitante e irónico, cheio de síncopes e de repetições caricatas.

  4. Largo — Curto, sombrio, dominado pelo trombone solista; lembra uma marcha fúnebre deformada.

  5. Allegretto — O final é uma paródia jubilosa, mas artificialmente feliz — como se zombasse da própria ideia de triunfo.

Estilo e ironia

É uma sinfonia de disfarces: a leveza aparente mascara uma crítica mordaz. O humor, os contrastes abruptos e o tom caricatural podem ser lidos como zombaria das expectativas do regime — uma recusa em participar do espetáculo triunfalista.

Por isso, Stalin e os críticos soviéticos detestaram a obra. Foi acusada de “falta de seriedade” e banida dos programas por algum tempo.

Em termos musicais

É uma sinfonia de clareza clássica, mas com o toque ácido de Shostakovich:

  • Orquestração transparente e precisa.

  • Uso brilhante de madeiras solistas (clarinete e fagote têm papéis destacados).

  • Humor rítmico e dissonâncias súbitas.

  • Um final que soa mais a circo do que a celebração.

Em resumo

A Sinfonia nº 9 é uma obra de ironia refinada e coragem disfarçada — uma risada contida diante da opressão. Pequena em tamanho, mas enorme em significado.

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