Contexto histórico
Shostakovich compôs esta sinfonia no fim da Segunda Guerra Mundial, quando a União Soviética celebrava a vitória sobre a Alemanha nazi. Todos — especialmente o regime de Stalin — esperavam uma grande sinfonia triunfal, monumental, como a Nona de Beethoven: uma obra que glorificasse o herói soviético e o poder do Estado.
Em vez disso, Shostakovich entrega... uma sinfonia breve, leve, sarcástica e quase “mozartiana” no tamanho e na instrumentação. Dura cerca de 25 minutos, sem coros, sem grandiloquência, sem heroísmo explícito.
Caráter e estrutura
A obra tem cinco andamentos:
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Allegro — Vivo, brincalhão, com humor de música de salão, mas com aquele toque de ironia nervosa típico de Shostakovich.
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Moderato — Um momento lírico e introspectivo, quase melancólico, com o clarinete a tecer frases delicadas sobre uma base contida.
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Presto — Um scherzo saltitante e irónico, cheio de síncopes e de repetições caricatas.
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Largo — Curto, sombrio, dominado pelo trombone solista; lembra uma marcha fúnebre deformada.
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Allegretto — O final é uma paródia jubilosa, mas artificialmente feliz — como se zombasse da própria ideia de triunfo.
Estilo e ironia
É uma sinfonia de disfarces: a leveza aparente mascara uma crítica mordaz. O humor, os contrastes abruptos e o tom caricatural podem ser lidos como zombaria das expectativas do regime — uma recusa em participar do espetáculo triunfalista.
Por isso, Stalin e os críticos soviéticos detestaram a obra. Foi acusada de “falta de seriedade” e banida dos programas por algum tempo.
Em termos musicais
É uma sinfonia de clareza clássica, mas com o toque ácido de Shostakovich:
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Orquestração transparente e precisa.
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Uso brilhante de madeiras solistas (clarinete e fagote têm papéis destacados).
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Humor rítmico e dissonâncias súbitas.
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Um final que soa mais a circo do que a celebração.
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