É uma sinfonia que combina rigor formal clássico com profunda expressividade romântica, e muitos a veem como a culminação do pensamento sinfônico de Brahms. De facto, foi sua última sinfonia, e nela ele parece condensar toda a experiência emocional e estrutural das anteriores.
I. Allegro non troppo (Mi menor)
Um início sombrio, quase austero. As cordas tecem um tecido contínuo, onde o tema principal parece brotar organicamente — sem fanfarras nem introduções. O desenvolvimento é denso e contrapontístico, com uma tensão que cresce como se a música se interrogasse sobre si mesma.
É a imagem do destino inevitável, mas tratada com contenção e dignidade, não com desespero.
II. Andante moderato (Mi maior)
Um dos momentos mais serenos da sinfonia. Tem um caráter quase arcaico — inspirado nos modos antigos — e revela o gosto de Brahms por texturas corais e sonoridades pastoris.
Aqui o compositor abre uma janela para o recolhimento: é um movimento de luz interior, em contraste com o drama do primeiro.
III. Allegro giocoso (Do maior)
Um scherzo vigoroso e terreno, quase jubiloso, com um uso ousado dos tímpanos. É raro encontrar em Brahms algo tão diretamente exultante. O ritmo é contagiante, cheio de energia e força vital.
Mas mesmo aqui há uma contenção: é uma alegria que sabe da sua transitoriedade.
IV. Allegro energico e passionato (Mi menor – passacaglia)
Um dos finais mais impressionantes da história da música. Brahms constrói o movimento sobre uma passacaglia — uma forma barroca baseada na repetição de um baixo fixo, aqui retirado de uma cantata de Bach (Nach dir, Herr, verlanget mich, BWV 150*).
Sobre esse tema, Brahms escreve 30 variações de uma arquitetura monumental, ao mesmo tempo cerebral e emotiva.
É como se o compositor, olhando para o passado (Bach), encontrasse nele a força para afirmar algo profundamente moderno: a aceitação trágica do destino, mas com grandeza.
Impressão geral
A Quarta Sinfonia é o testamento espiritual de Brahms — severa, intensa, construída com perfeição formal e uma melancolia contida que arde por dentro.
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