quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Shostakovitch-Piano Concerto Nº. 1 em dó menor para Piano Trompete Orquestra Op.35

A obra Concerto para Piano, Trompete e Orquestra de Cordas em Dó menor, Op. 35, de Dmitri Shostakovitch, é uma das peças mais brilhantes, irônicas e inventivas do repertório pianístico do século XX. 

Informações Gerais

  • Título original: Концерт для фортепиано с оркестром, Op. 35

  • Compositor: Dmitri Shostakovitch (1906–1975)

  • Ano de composição: 1933

  • Estreia: 15 de outubro de 1933, em Leningrado (atual São Petersburgo)

  • Solista da estreia: Dmitri Shostakovitch (piano)

  • Regência: Fritz Stiedry

  • Trompete solo: Alexander Schmidt

  • Formação orquestral: Piano solista, Trompete solista e Orquestra de Cordas

Estrutura

A obra é dividida em quatro movimentos, executados sem longas pausas, num estilo concertante muito particular:

  1. Allegretto

    • Abertura espirituosa e cheia de energia, com passagens brilhantes do piano.

    • Alterna entre lirismo e sarcasmo, marca típica de Shostakovitch.

    • O trompete aparece como personagem secundário, muitas vezes comentando o discurso pianístico.

  2. Lento

    • Movimento lírico e melancólico, com clima de serenata ou canção de ninar.

    • Piano e cordas dialogam de forma introspectiva, quase como num adágio romântico.

    • O trompete intervém com delicadeza, quase como uma voz distante.

  3. Moderato (transição)

    • Breve movimento de caráter meditativo, funcionando como ponte entre o lirismo do Lento e a vivacidade do final.

    • Tensão crescente.

  4. Allegro con brio

    • Final virtuosístico e cheio de humor.

    • Shostakovitch cita e parodia temas de outras obras (como a “Rapsódia Húngara n.º 2” de Liszt e a “Canção da Pulga” de Beethoven).

    • O trompete tem papel destacado, dialogando e “competindo” com o piano num clima de quase duelo.

    • O concerto termina com brilho e ironia.

Estilo e Importância

  • Esta peça mistura virtuosismo pianístico, sátira musical e inspiração clássica, refletindo a fase jovem e espirituosa do compositor.

  • Ao contrário dos concertos tradicionais, o trompete não é um solista principal, mas atua como comentador e contraponto, o que torna a obra única.

  • É considerada uma das peças mais acessíveis e populares de Shostakovitch, frequentemente programada em concertos e concursos pianísticos.

  • Yuri TemirkanovYuri Temirkanov

 

domingo, 12 de outubro de 2025

Rachmaninov-Variações sobre um Tema de Corelli Op42

..As “Variações sobre um Tema de Corelli”, Op. 42, de Sergei Rachmaninov, são uma das obras mais íntimas e refinadas do seu repertório para piano solo. Aqui vai uma explicação detalhada e interessante


  • Título original: Variations on a Theme of Corelli, Op. 42

  • Compositor: Sergei Rachmaninov (1873–1943)

  • Ano de composição: 1931

  • Estreia: 12 de outubro de 1931, em Montreal, com o próprio Rachmaninov ao piano.

  • Duração média: cerca de 18–20 minutos

  • Instrumentação: piano solo

  • Número de variações: 20, mais uma Cadenza e uma Coda.

O “Tema de Corelli”

Apesar do título, o tema não é de Arcangelo Corelli propriamente dito.
Rachmaninov usou o célebre tema “La Folia”, uma progressão harmónica de origem ibérica (possivelmente portuguesa ou espanhola) que foi popularizada por muitos compositores barrocos, entre eles Corelli (na sua Sonata Op. 5 n.º 12 para violino e contínuo).
Portanto, o “tema de Corelli” é na verdade La Folia na versão corelliana.

O tema tem 16 compassos e uma harmonia muito reconhecível, sobre a qual inúmeros compositores criaram variações ao longo dos séculos.

Estrutura

A obra é construída assim:

  1. Tema – apresentado de forma sóbria e clara.

  2. Variações I–XIII – desenvolvem o tema com crescente virtuosismo, alternando climas líricos e tempestuosos.

  3. Intermezzo (Andante) – uma pausa contemplativa após a Variação XIII.

  4. Variações XIV–XX – retomam o fluxo, atingindo grande intensidade técnica e emocional, incluindo uma Cadenza (quase improvisatória) antes da Variação XIX.

  5. Coda – surpreendentemente tranquila e introspectiva, contrastando com o clímax anterior.

Características musicais

  • Economia temática: toda a obra nasce de um único tema, que Rachmaninov transforma com extraordinária imaginação.

  • Equilíbrio entre lirismo e virtuosismo: embora haja passagens extremamente exigentes, é uma obra mais íntima do que, por exemplo, os Concertos para Piano.

  • Estilo tardio: composta depois da sua emigração definitiva para os EUA, mostra um Rachmaninov mais contido, com harmonias sofisticadas e um toque quase neoclássico.

  • Liberdade interpretativa: Rachmaninov costumava pular variações ao vivo se sentisse que o público estava cansado — especialmente nos EUA, onde ele dizia que “o público americano boceja se não há fogo-de-artifício a cada minuto”. Numa gravação sua, ele omite 5 variações.

Importância

  • Foi a última grande obra original para piano solo de Rachmaninov.

  • Mostra a sua habilidade como pianista-compositor maduro, capaz de unir forma clássica (variações sobre La Folia) a uma linguagem harmónica pessoal e moderna.

  • Hoje é considerada uma peça de recital de alto nível técnico e expressivo, frequentemente programada por pianistas que desejam mostrar profundidade interpretativa além do virtuosismo

 

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Shostakovitch-String Quartet nº01 em dó maior op.49

O Quarteto de Cordas n.º 1 em Dó maior, Op. 49 de Dmitri Shostakovich é uma obra composta em 1938, estreada a 10 de Outubro, terminada rapidamente durante um período em que o compositor buscava “recomeçar” criativamente após os anos turbulentos das críticas oficiais soviéticas à sua ópera Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk e à sua 4.ª Sinfonia.

É uma peça particularmente interessante porque, apesar de ser o primeiro quarteto publicado, Shostakovich já era um compositor maduro — tinha 32 anos — e dominava a escrita orquestral e camerística com grande experiência.

Contexto Histórico

Em 1936, Shostakovich foi violentamente atacado pela imprensa oficial soviética, acusado de “formalismo” e “decadência burguesa”. Para se proteger, retirou a 4.ª Sinfonia antes da estreia e compôs a 5.ª Sinfonia (1937) como “resposta prática a críticas justas” — uma obra que teve grande sucesso público e oficial.

Logo depois, em 1938, ele compôs o seu primeiro quarteto de cordas, inaugurando um ciclo que se tornaria uma das maiores séries de quartetos do século XX (15 ao todo), comparável em importância aos de Beethoven ou Bartók.

Shostakovich disse mais tarde que quis escrever este quarteto “com a alegria da juventude, como se fosse um estudante que escreve a sua primeira peça importante”.

Estrutura da Obra

A peça tem cerca de 15 minutos e é formada por quatro andamentos:

  1. Moderato – (Dó maior)

    • Sereno, quase pastoral.

    • As cordas apresentam um tema simples e lírico, com um caráter despreocupado e claro, reminiscente da música clássica vienense.

    • Lembra um passeio bucólico, sem ironia ou tensão — incomum em Shostakovich.

  2. Moderato – (Lá menor)

    • Mais introspectivo e melancólico.

    • O material tem um tom quase elegíaco, com frases longas e suspensas.

    • Aqui já se sente o típico “sabor” Shostakovichiano: uma tristeza contida e ressonâncias emocionais mais profundas.

  3. Allegro molto – (Dó menor)

    • Energético, com ritmos incisivos e brincadeiras contrapontísticas.

    • Alguns críticos veem ecos de danças populares e também ironia leve — traços que se tornariam centrais nos quartetos posteriores.

    • Há diálogos intensos entre os instrumentos.

  4. Allegro – (Dó maior)

    • Retorna à leveza inicial, com um rondó vivaz e otimista.

    • A música quase parece “dançar”, como se quisesse dissipar as sombras do segundo e terceiro andamentos.

    • Termina de forma radiante, quase clássica.

Estilo e Importância

  • Clareza formal: O quarteto é relativamente tradicional na forma — Shostakovich estava conscientemente a “ensaiar” o género sem subverter a tradição.

  • Economia temática: Ele trabalha com poucos motivos, mas desenvolve-os com mestria contrapontística.

  • Tonalidade luminosa: O tom geral é muito mais positivo que o habitual nas suas obras posteriores, o que levou alguns a descrevê-lo como “uma peça de primavera”.

  • Ponto de partida: Embora seja o primeiro quarteto, já antecipa a profundidade psicológica e a importância que os quartetos teriam na obra tardia do compositor — eles tornaram-se, ao longo da sua vida, um espaço de expressão íntima, mais pessoal do que as obras sinfónicas.

Curiosidade

Shostakovich afirmou mais tarde que considerava o Quarteto n.º 1 uma espécie de “exercício” para se familiarizar com a forma — e por isso a obra tem um caráter menos dramático que os quartetos seguintes. Mas paradoxalmente, essa simplicidade conquistou muitos ouvintes e músicos, tornando-o uma entrada acessível ao universo camerístico do compositor.  

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Shostakovitch-Sinfonia nº12 em ré menor op112

A Sinfonia n.º 12 em ré menor, Op. 112, de Dmitri Shostakovich, foi composta em 1961 e tem como subtítulo “O ano de 1917”, uma clara referência à Revolução Russa.
Em 1961 a 1 de Outubro estreada em Leninegrado interpretado pela Leningrad Philharmonic, dirigida por Yevgeny Mravinsky. 

Ela ocupa um lugar curioso na produção do compositor:

  • Contexto histórico:
    Foi escrita logo após a morte de Stalin (1953) e a posterior relativa abertura sob Khrushchev. Shostakovich já tinha oferecido em 1939 a famosa Sinfonia n.º 5, oficialmente recebida como a “resposta justa” às críticas de censura, mas na verdade cheia de ironia. A 12.ª, no entanto, soa muito mais direta e “programática”, dedicada explicitamente a Lenine (Shostakovich chegou a afirmar que era em memória dele).

  • Estrutura:
    É uma das sinfonias mais curtas do compositor e tem quatro movimentos tocados sem pausa:

    1. Revolução

    2. Razliv (lugar de exílio temporário de Lenin)

    3. Aurora (o famoso navio Aurora, que disparou o tiro de sinal para o assalto ao Palácio de Inverno)

    4. A aurora da humanidade

  • Estilo musical:

    • Ao contrário da profundidade sombria da 11.ª (“O Ano de 1905”), a 12.ª é muito mais direta, quase como uma sinfonia de propaganda.

    • O discurso musical é vigoroso, com uso constante de marchas, fanfarras e motivos repetitivos.

    • Alguns críticos a acusam de ser “oficial demais”, sem a ironia ou a ambiguidade típica de Shostakovich. Outros, porém, defendem que há subtilezas escondidas: momentos de tensão, instabilidade harmônica e um final que pode soar mais forçado do que triunfante.

  • Receção:
    Na estreia (Leningrado, 1961), foi recebida com entusiasmo oficial — era o tipo de obra que o regime queria ouvir. Mas a crítica internacional muitas vezes a coloca entre as sinfonias “menores” de Shostakovich, especialmente quando comparada às 8.ª, 10.ª ou 15.ª.
    Ainda assim, alguns maestros (como Kirill Kondrashin e Maxim Shostakovich, o filho do compositor) souberam trazer à tona uma leitura mais intensa e menos panfletária.

 

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Handel-Concerto Grosso nº1 em si op.6 HMV 319

..O Concerto Grosso n.º 1 em Si bemol maior, Op. 6, HWV 319 de Georg Friedrich Handel faz parte de um conjunto de doze concerti grossi que o compositor publicou em Londres, em 1739. Esse ciclo é conhecido como Concerti Grossi, Opus 6 e é considerado uma das obras-primas de Handel no gênero instrumental.

Aqui vão alguns pontos principais:

  • 📅 Composição e publicação: Handel escreveu esses concertos em apenas cerca de um mês (setembro-outubro de 1739). Foram publicados em Londres no mesmo ano, pela editora Walsh.

  • 🎼 Forma: O Concerto Grosso n.º 1 segue o modelo do concerto grosso à la Corelli — isto é, contraste entre o concertino (pequeno grupo solista, geralmente dois violinos e violoncelo) e o ripieno (orquestra completa).

  • 🎵 Estrutura dos movimentos:

    1. A tempo giusto (grave e solene, estilo francês de abertura)

    2. Allegro (vivaz, com passagens fugadas)

    3. Adagio (lírico e expressivo)

    4. Allegro (dançante, cheio de energia)

  • 🎻 Estilo: O concerto mostra a fusão do estilo italiano (Corelli, Vivaldi) com elementos franceses e ingleses. Handel usa contraponto rigoroso, mas também melodias muito cantáveis.

  • Importância: O Op. 6 de Handel é frequentemente comparado aos Concerti Grossi, Op. 6 de Corelli (que eram referência absoluta no gênero). Handel, no entanto, dá um caráter mais dramático e variado, refletindo sua experiência com óperas e oratórios.

 

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Shostakovitch-Violino Concerto nº2 em dó sustenido menor op. 129

O Concerto para Violino nº 2 em dó sustenido menor, op. 129, de Dmitri Shostakovitch, é uma das últimas grandes obras concertantes dele, escrito em 1967 para o violinista David Oistrakh (a quem também dedicara o Concerto nº 1). É uma peça de maturidade, muito mais contida e sombria que o nº 1, e considerada difícil, tanto técnica como musicalmente.

Foi a 26 de Setembro em 1967 que Shostakovich estreou este   Violino Concerto nº2  sendo solista ( não posia deixar de ser) David Oistrakh e  Kiril Kondrashin o condutor A frente da Moscow Philharmonic.


Alguns pontos marcantes:

  • Caráter geral:
    Diferente da energia explosiva e quase sarcástica do Concerto nº 1, este tem um tom mais introspectivo, austero e sombrio. É um concerto de economia de gestos, mas com uma densidade expressiva impressionante.

  • Estrutura:

    • I. Moderato – Um primeiro movimento quase meditativo, cheio de longas linhas melódicas, contrastes súbitos e uma orquestração contida (mais camerística que sinfônica). O violino se move entre lirismo e dureza.

    • II. Adagio – O coração do concerto. Uma melodia lenta, melancólica, quase fúnebre, que vai sendo intensificada em clímax de grande força. É um dos movimentos mais líricos que Shostakovitch escreveu para violino.

    • III. Adagio – Allegro – O finale tem o formato de rondó com elementos de dança grotesca, cheio de ironia, ritmos cortantes e toques de humor negro típicos do compositor. Termina de maneira seca, quase abrupta, sem grandiosidade.

  • Orquestração:
    A orquestra é relativamente pequena, mas usada com imenso cuidado. A percussão tem papel destacado (tímpanos, tam-tam), criando efeitos dramáticos e contrastes.

  • Contexto:
    Shostakovitch o escreveu em seu aniversário de 60 anos, já doente e refletindo sobre sua vida. A peça tem um ar de despedida, com menos brilho externo e mais densidade interior. Oistrakh, que o estreou em Moscovo, considerava-o uma obra-prima.

  • Caráter interpretativo:
    É uma obra de grande profundidade psicológica. O violinista precisa equilibrar o virtuosismo técnico com uma expressividade contida, quase como se fosse um monólogo íntimo diante de um silêncio pesado.

Shostakovich resolveu escrever algo bem complicado e difícil para que Oistrakh passasse o maior trabalho. E fez este Concerto Nº 2. É complicado até de ouvir, não obstante a curiosidade dos “intensos diálogos” e repetições que o violino faz com insrumentos da orquestra.

 

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Samuel Barber-Piano Concerto Op.38

.Concerto para Piano, Op. 38 de Samuel Barber é uma das obras mais importantes do repertório americano para piano e orquestra do século XX.

Aqui estão os pontos essenciais:

  • Composição e Estreia:

    • Foi escrito em 1960–1962 a pedido da G. Schirmer (editora de Barber) para celebrar o seu centenário.

    • Barber dedicou a obra a John Browning, jovem pianista norte-americano, que a estreou a 24 de setembro de 1962 no Lincoln Center de Nova Iorque, com a Boston Symphony Orchestra dirigida por Erich Leinsdorf.

    • A obra foi muito bem recebida e valeu a Barber o Prémio Pulitzer de Música em 1963.

  • Estrutura: o concerto tem três movimentos e dura cerca de 25 minutos.

    1. Allegro appassionato – vigoroso, intenso, marcado por contrastes rítmicos e harmonia rica, combinando energia quase “percussiva” no piano com um lirismo típico de Barber.

    2. Canzone (Molto adagio) – o movimento mais lírico e introspectivo, muitas vezes descrito como “cantável”. É uma das grandes melodias de Barber, lembrando o estilo do seu célebre Adagio for Strings, mas mais intimista.

    3. Allegro molto – final virtuosístico, rítmico e implacável. O piano brilha com passagens rápidas e exigentes, enquanto a orquestra mantém um caráter exuberante e quase dançante, terminando com grande força.

  • Estilo:

    • Apesar de ser escrito já nos anos 60, Barber manteve-se fiel ao seu idioma tonal expandido, com harmonias modernas mas acessíveis.

    • A obra mistura tradição romântica (Rachmaninoff, Prokofiev) com uma clareza e energia tipicamente americanas.

    • O resultado é um concerto de brilho pianístico e profundidade emocional, mas sem abandonar o lirismo melódico característico de Barber.

  • Receção e Importância:

    • Tornou-se uma das obras de concerto mais representativas da música americana.

    • Foi gravado várias vezes, mas a estreia com John Browning é histórica — Browning tornou-se o grande intérprete do concerto.

 

Shostakovitch-Cello Concerto Nº 2

..O Concerto para Violoncelo n.º 2 em sol maior, Op. 126, de Dmitri Shostakovich, é uma das últimas grandes obras do compositor, escrito em 1966


Aqui estão alguns pontos-chave:

  • Dedicação: Tal como o Concerto n.º 1, foi dedicado ao lendário violoncelista Mstislav Rostropovich, que também o estreou em Moscovo em 25 de setembro de 1966, com Evgeny Svetlanov a dirigir a Orquestra Filarmónica da União Soviética.

  • Contexto: Diferente do Concerto n.º 1, que é brilhante, quase virtuosístico e heroico, o Concerto n.º 2 é mais sombrio, introspectivo e com uma linguagem musical mais austera, típica do Shostakovich tardio.

  • Estrutura:

    1. Largo – um início meditativo, com atmosfera melancólica, sem pressa; o violoncelo canta longas linhas líricas.

    2. Scherzo (Allegretto) – irónico, quase grotesco, baseado numa canção popular de Odessa, trazendo contraste e humor ácido.

    3. Finale (Allegretto – Allegretto – Adagio) – começa com energia, alterna episódios mais leves e dançantes com momentos sombrios, até terminar de forma surpreendente, num pianíssimo enigmático.

  • Caráter: A obra é menos “concerto de bravura” e mais uma meditação dramática, com diálogos íntimos entre solista e orquestra. Rostropovich dizia que este concerto “fala mais da alma do que das mãos”, ou seja, exige mais profundidade expressiva que virtuosismo técnico.

  • Importância: É considerado uma das obras-primas do repertório para violoncelo do século XX, embora menos tocado que o Concerto n.º 1. Reflete muito do universo tardio de Shostakovich: ambiguidade entre lirismo e ironia, sombra e resistência.

  • Às vezes, o concerto é listado como estando na tonalidade de sol, mas a partitura não dá essa indicação. Junto com o Décimo Primeiro Quarteto de Cordas , o Prefácio às Obras Completas e os Sete Romances sobre Textos de Alexander Blok, o Segundo Concerto para Violoncelo assinalou o início do estilo tardio de Shostakovich.

 

terça-feira, 9 de setembro de 2025

Beethoven-Sonata nº12 em lá bemol maior op.26

 A Sonata para piano n.º 12 em lá bemol maior, Op. 26 de Ludwig van Beethoven (composta entre 1800 e 1801, publicada em 1802) é uma das peças mais singulares do compositor dentro do género, justamente porque rompe com a forma tradicional das sonatas da época.

Estrutura incomum

  • Ao contrário da norma, a sonata não começa com um Allegro em forma-sonata, mas sim com um tema e variações.

  • Os quatro andamentos são:

    1. Andante con variazioni – Tema lírico em lá bemol maior com cinco variações. É meditativo e íntimo, dando ao início uma atmosfera quase de improvisação.

    2. Scherzo: Allegro molto – Breve, leve e rítmico, contrastando com a solenidade do primeiro andamento.

    3. Marcia funebre sulla morte d’un Eroe – O célebre andamento fúnebre em lá bemol menor. Tornou-se extremamente conhecido, chegando a ser executado no funeral de Beethoven em 1827.

    4. Allegro – Um final em rondó-sonata, ágil e de caráter luminoso, quase como um alívio após a densidade da marcha fúnebre.

Características marcantes

  • Inovação formal: Beethoven experimenta bastante aqui, testando uma sequência de movimentos pouco convencional, o que influenciaria futuras sonatas.

  • Caráter expressivo: A alternância entre variações líricas, scherzo brincalhão, marcha fúnebre dramática e finale leve dá ao conjunto uma riqueza emocional rara.

  • Marcia funebre: Este terceiro andamento ganhou vida própria, sendo frequentemente tocado separadamente, dada a sua força expressiva.

Importância

  • A Sonata Op. 26 foi muito admirada na época: Chopin, por exemplo, terá se inspirado no 3.º andamento para a sua própria Sonata n.º 2 em si bemol menor, Op. 35, que também contém uma marcha fúnebre célebre.

  • Mostra um Beethoven ainda no chamado "período inicial", mas já claramente a romper convenções clássicas e a abrir espaço para novas formas de expressão que dominariam o seu "período médio".

domingo, 7 de setembro de 2025

Grieg-Piano concerto em lá menor op.16

O Concerto para piano em lá menor, Op. 16, de Edvard Grieg (1868) é uma das obras mais conhecidas do repertório romântico para piano e orquestra. Algumas notas importantes:
  • Primeira grande obra sinfónica de Grieg – Ele tinha apenas 24 anos quando a compôs, inspirado em parte pelo concerto de Schumann, também em lá menor. Grieg admirava Schumann e conhecia bem o estilo romântico alemão, mas já começa a imprimir sua própria identidade.

  • Virtuosismo e lirismo – O concerto equilibra trechos de brilhantismo pianístico (especialmente no primeiro movimento, com as cadências e acordes poderosos) com momentos de melodia delicada, típicos da tradição nórdica.

  • Temas nacionais – Embora não use citações folclóricas diretas, o concerto é permeado por ritmos e cores que evocam a música popular norueguesa, especialmente nas danças do último movimento. Essa fusão de tradição romântica europeia com identidade nacional foi marca do estilo de Grieg.

  • Estrutura:

    • I. Allegro molto moderato – abre com a célebre cascata de acordes do piano, seguida por um tema lírico e expansivo.

    • II. Adagio – lírico, em tom mais intimista, frequentemente descrito como uma canção da alma.

    • III. Allegro moderato molto e marcato – dançante e rítmico, com forte inspiração folclórica, concluindo em um clima de brilho e triunfo.

  • Recepção – Foi um sucesso desde a estreia e logo se tornou popular em toda a Europa. Pianistas como Liszt elogiaram a obra (Liszt chegou a ler a partitura e tocá-la à primeira vista, o que impressionou Grieg).

  • Legado – É o único concerto para piano que Grieg escreveu, mas permanece entre os mais executados até hoje, ao lado dos concertos de Tchaikovsky, Rachmaninov e Beethoven.

👉 Aqui interpretação é do grande Arthur Rubinstein     

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Eric Coates-London Suite

  • Em 1886 a 27 de Agosto, nasceu em Hucknall em Nottinghamshir Eric Coates que viria a morrer em Chichester após ter sofrido um acidente vascular cerebral a 21 de Dezembro de 1957
Uma das suas principais obras é a London Suite


A London Suite de Eric Coates é uma das obras orquestrais mais conhecidas do compositor inglês, escrita em 1933. Coates, muitas vezes lembrado como “o mestre da música ligeira britânica”, tinha o dom de criar melodias cativantes, muito associadas ao espírito inglês do início do século XX.

A London Suite é composta por três movimentos, cada um evocando um lugar característico da cidade de Londres:

  1. Covent Garden (Tarantelle) – Alegre, movimentado, cheio de energia, como a própria atmosfera do mercado e da vida teatral da zona.

  2. Westminster (Meditation) – Mais solene e reflexivo, quase como uma homenagem à dignidade do Parlamento e da Abadia de Westminster.

  3. Knightsbridge (March) – O movimento mais famoso da suíte, com uma marcha vibrante e otimista. Tornou-se muito popular e chegou a ser usado como tema musical pela BBC para o programa de rádio In Town Tonight.

O estilo de Coates nessa suíte é típico dele: melodias claras, acessíveis, orquestração colorida e uma forte ligação com a vida urbana e popular. Diferente da música “sinfónica pesada” de outros contemporâneos, Coates escrevia para encantar e ser imediatamente reconhecível — daí o enorme sucesso na rádio e no cinema.    

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Weber-Quinteto para Clarinete em si bemol maior op.34

O Quinteto para Clarinete e Quarteto de Cordas em Si bemol maior, Op. 34, de Carl Maria von Weber, é uma das obras mais importantes do repertório camerístico para clarinete. 

  • Weber estreou-o em Munique em 1815 a 24 de Agosto  com Heinrich Barmann como solista

Algumas características marcantes:

  • Composição: Foi escrito em 1811, numa época em que Weber estava a colaborar intensamente com o clarinetista virtuoso Heinrich Bärmann. É justamente a habilidade extraordinária de Bärmann que inspirou Weber a explorar ao máximo a expressividade e a técnica do instrumento.

  • Estrutura: O quinteto segue a forma tradicional em quatro movimentos:

    1. Allegro (forma-sonata, virtuosismo logo de início, com contrastes líricos).

    2. Fantasia (Adagio ma non troppo) – um movimento altamente expressivo, quase operístico, onde o clarinete canta como uma voz humana.

    3. Menuetto, capriccio presto – espírito dançante e leve, com brincadeiras rítmicas.

    4. Rondo (Allegro giocoso) – final brilhante e cheio de energia.

  • Estilo: Embora Weber seja visto como um dos primeiros compositores do romantismo, aqui ele combina ainda elementos clássicos (forma, clareza de escrita) com antecipações românticas (grande lirismo, tratamento quase “teatral” do clarinete, que lembra a escrita vocal das suas óperas).

  • Importância: É considerado um marco no repertório do clarinete, ao lado dos quintetos de Mozart (K. 581) e de Brahms (Op. 115), embora de caráter bem diferente: enquanto o de Mozart é lírico e equilibrado, e o de Brahms é crepuscular e introspectivo, o de Weber é virtuosístico, cheio de brilho e dramatismo.

domingo, 24 de agosto de 2025

Mozart-Violino Sonata em lá maior K526

A Sonata para violino e piano em Lá maior, K. 526, de Mozart, é uma das obras mais notáveis do seu catálogo de sonatas para violino. Ele a compôs em 1787, estreou a 24 de Agosto em Viena — o mesmo ano do Don Giovanni —, o que já dá uma ideia da intensidade criativa em que Mozart vivia naquele período.

Alguns pontos que vale destacar:

  • Caráter virtuosístico: diferente de sonatas anteriores, onde o violino muitas vezes tinha papel mais modesto em relação ao piano, aqui os dois instrumentos estão em pé de igualdade. O violino exige técnica apurada, e o piano também tem passagens brilhantes, quase de concerto.

  • Estrutura: segue o modelo clássico de três movimentos:

    1. Molto allegro (em forma sonata) – vivo, cheio de energia e diálogos entre piano e violino.

    2. Andante – mais lírico e intimista, em Ré maior, com caráter quase operístico, como uma ária calma no meio da peça.

    3. Presto – um rondó cheio de brilho e humor, exigindo enorme destreza dos intérpretes.

  • Estilo: a peça já mostra Mozart a experimentar um equilíbrio entre lirismo e virtuosismo, quase antecipando o estilo de Beethoven. Muitos comentadores apontam que essa sonata tem uma energia “sinfônica” dentro da forma camerística.

  • Dificuldade: está entre as mais difíceis do ciclo, tanto para violinistas quanto para pianistas, justamente pelo virtuosismo, pela clareza necessária e pela velocidade dos movimentos extremos.

Diria que a K. 526 é uma obra que não só exibe a genialidade técnica de Mozart, mas também a sua capacidade de transformar uma sonata em algo profundamente expressivo, quase teatral...

sábado, 23 de agosto de 2025

Beethoven-Polonaise op.89

A Polonaise em Dó maior, Op. 89, de Beethoven, é uma peça curiosa dentro da sua produção. 🎼

👉 Alguns pontos interessantes:

  • Data e contexto: Foi composta em 1814, um ano em que Beethoven estava muito envolvido com trabalhos de circunstância e obras de caráter mais leve, muitas vezes encomendadas para ocasiões sociais.

  • Dedicatória: É dedicada à imperatriz russa Maria Feodorovna, mãe do czar Alexandre I. A escolha da forma polonesa (dança de origem polaca, mas muito popular nas cortes da Europa) certamente tinha um caráter diplomático.

  • Estilo:

    • Não é uma obra de “grande profundidade” beethoveniana como as sonatas ou quartetos; está mais próxima do estilo de salão, brilhante e elegante.

    • Tem o ritmo característico da polonaise (compasso ternário, com acentuação marcada no primeiro tempo e figuração pontuada).

    • Apesar disso, Beethoven dá-lhe o seu cunho: há contrastes dinâmicos, uso de síncopes e um certo peso que vai além de uma peça apenas decorativa.

  • Recepção: Muitas vezes considerada uma obra “menor” no catálogo, mas interessante por mostrar Beethoven em diálogo com o gosto cortesão da época, quase um exercício de diplomacia musical.

  • Caráter: É festiva, cerimoniosa, mas ainda com um certo vigor que não deixa esquecer a mão de Beethoven.

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quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Tchaikovsky-Abertura 1812 op.49

 A Abertura 1812 de Piotr Ilitch Tchaikovsky é uma das peças sinfônicas mais famosas do repertório clássico, composta em 1880 para celebrar a vitória russa sobre Napoleão na invasão de 1812.

Em 1882 a 20 de Agosto estreia  a Abertura de 1812 de Tchaikovsky em Moscovo.

A obra é mais conhecida pela sua sequência de tiros de canhão que é, em alguns concertos ao ar livre, executada com canhões reais. Embora a obra não tenha nenhuma conexão com os Estados Unidos da América, muitas vezes é executada juntamente com músicas patrióticas naquele país.

Alguns pontos interessantes sobre ela:

  • Contexto histórico: Tchaikovsky foi encarregado de escrever a obra para a consagração da Catedral de Cristo Salvador, em Moscovo, erguida em memória da resistência russa. Ele próprio dizia não ter grande apego ao tema patriótico, mas a encomenda pedia algo grandioso.

  • Estrutura musical:

    • Começa com um hino ortodoxo russo, representando a fé do povo.

    • Depois surgem trechos militares, temas russos e até a Marselhesa, hino da França revolucionária e símbolo dos invasores.

    • O clímax é uma explosão triunfal com o hino imperial russo “Deus salve o czar”, acompanhado por sinos e canhões.

  • Instrumentação inusitada: Além da orquestra tradicional, Tchaikovsky pediu canhões reais e sinos de igreja. Em apresentações modernas, geralmente se usam efeitos sonoros, mas há execuções ao ar livre que incluem tiros de artilharia de verdade.

  • Recepção: Embora o próprio Tchaikovsky não considerasse a obra entre suas melhores (dizia que era mais efeito do que emoção pessoal), ela se tornou um símbolo de espetáculo musical, muito usada em concertos ao ar livre e até em celebrações como o 4 de Julho nos EUA.

  • Caráter: É uma peça mais de impacto do que de introspecção — cheia de energia, grandiloquência e brilho orquestral, quase um "fogos de artifício" em música.

sábado, 16 de agosto de 2025

Paganini-Violino concerto nº1 op 06

,,O Concerto para Violino nº 1 , Op. 6, foi composta por Niccolò Paganini na Itália e data de meados da década de 1810. 

Foi estreada em Nápoles em 31 de março de 1819. 


 Composto por volta de 1817–1818, quando Paganini já era famoso como intérprete, o concerto foi escrito para mostrar ao público os limites técnicos extremos que ele dominava — e que muitos outros violinistas não conseguiam sequer executar.

Aqui vão alguns pontos-chave:

  • Estrutura: segue o modelo clássico-romântico de três movimentos:

    1. Allegro maestoso

    2. Adagio espressivo

    3. Rondo: Allegro spirituoso

  • Virtuosismo: O concerto está repleto de técnicas características de Paganini — harmônicos, pizzicati com a mão esquerda, grandes saltos, cordas duplas, passagens em staccato rápido — que transformam a obra quase numa “exibição circense” de habilidades.

  • Orquestração: Paganini escreveu a parte orquestral de modo relativamente simples e claro, justamente para que o violino brilhasse em primeiro plano. Curiosamente, ele chegou a escrever a parte solista em Mi bemol maior, mas indicava que fosse tocada em ré maior com a corda do violino afinada meio tom acima (o chamado scordatura). Assim, o efeito sonoro era mais brilhante e metálico.

  • Caráter: o primeiro movimento tem solenidade e brilho quase “operático”, o segundo é lírico e cantabile (lembrando uma ária italiana), e o terceiro é ágil, cheio de saltos e pirotecnias, quase uma dança endiabrada.

  • Influência: Essa obra contribuiu para consolidar a imagem de Paganini como “o violinista do diabo”, com técnica sobre-humana. Até hoje é um dos concertos mais difíceis do repertório e continua a ser um marco para intérpretes que desejam demonstrar virtuosismo.

Aqui a interpretação é de Maria Dueñas

 

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Jacques Ibert-Flauta concerto

Em 1890 nasceu em Paris o compositor francês Jacques Ibert que viria a morrer também em Paris a 5 de Fevereiro de 1962


Aqui apresenta-se o seu Flauta Concerto interpreatado por Adriana Ferreira 

O Concerto para Flauta e Orquestra de Jacques Ibert (1932–1934) é uma das obras mais icônicas do repertório de flauta do século XX, tanto pela sua exigência técnica quanto pelo seu caráter espirituoso.

Aqui está um panorama:


1. Contexto

  • Foi encomendado pela flautista Marcel Moyse, um dos maiores nomes da flauta na França.

  • Estreou em 1934, em Paris, com Moyse como solista.

  • Reflete o espírito francês da época: leveza, clareza e virtuosismo, herança de Debussy e Ravel, mas com um toque mais irônico e brincalhão característico de Ibert.


2. Estrutura
O concerto tem três movimentos bem contrastantes:

  1. Allegro – Muito brilhante, rítmico, com saltos, escalas rápidas e articulação clara; exige precisão e resistência do flautista.

  2. Andante – Lírico, mais introspectivo; a flauta canta com longas frases e riqueza tímbrica, mas ainda há sutis desafios de controle de afinação e dinâmica.

  3. Allegro Scherzando – Vivíssimo e cheio de humor; combina passagens rápidas, mudanças abruptas de caráter e virtuosismo quase acrobático.


3. Estilo e Características

  • Uso de escalas modais e cromáticas, mas dentro de um vocabulário tonal expandido.

  • Humor musical: mudanças súbitas de andamento, dinâmicas e caráter.

  • Escrita “transparente” da orquestra: a flauta nunca é encoberta, mas precisa brilhar acima da textura.

  • É uma obra que tanto exige técnica apurada (articulação, saltos, registro agudo) quanto expressão refinada.


4. Desafios para o flautista

  • Respiração: frases longas no Andante e passagens contínuas no 1º movimento.

  • Mudança rápida de registros: agudo e grave alternando sem aviso.

  • Clareza de articulação: especialmente no Scherzando.

  • Interpretação: equilibrar o virtuosismo com o charme e o humor francês.

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quarta-feira, 9 de julho de 2025

Liszt-Sonata em ré menor S.178

No ano de 1924 a 9 de Julho, nasceu em Bufalo o pianista americano Leonard Pennario

Em sua homenagem é interpetrada a A Sonata em Si Menor, S.178 por    Seong-jin Cho


A Sonata em Si Menor, S.178 de Franz Liszt é uma das obras mais monumentais do repertório pianístico — intensa, inovadora e emocionalmente devastadora. Composta em 1853 e dedicada a Robert Schumann, esta sonata rompe deliberadamente com as convenções formais da época e oferece um retrato profundamente pessoal e simbólico.

Aqui vão alguns pontos marcantes sobre ela:

Forma e Estrutura

  • Embora seja chamada de “sonata”, ela não segue a forma sonata tradicional em múltiplos movimentos.

  • É escrita em movimento único contínuo, mas internamente articula-se como se fossem quatro movimentos fundidos (sonata-allegro, andante, scherzo, finale).

  • Liszt usa a técnica de transformação temática, onde os mesmos temas se metamorfoseiam ao longo da peça — o que cria uma unidade impressionante e emocionalmente coesa.

Conteúdo Expressivo

  • A obra é intensamente dramática, contrastando seções brutais e demoníacas com passagens de beleza etérea.

  • Muitos interpretam a sonata como uma narrativa simbólica — por vezes vista como uma luta entre o bem e o mal, entre corpo e alma, ou mesmo um retrato da alma humana em conflito.

  • Alguns estudiosos veem paralelos com o Fausto de Goethe ou até uma metáfora sobre Cristo e o pecado.

Desafio Técnico e Interpretativo

  • Extremamente difícil do ponto de vista técnico e ainda mais do ponto de vista emocional e estrutural.

  • O pianista precisa ter visão de conjunto: é fácil perder-se na riqueza dos detalhes sem captar a narrativa total.

  • Dominar os contrastes extremos e sustentar a tensão durante os cerca de 30 minutos da obra é uma tarefa hercúlea.

Impacto e Legado

  • Inicialmente, a sonata foi mal compreendida. Clara Schumann a chamou de “abominável”.

  • Hoje, é reconhecida como uma das maiores sonatas para piano da história da música — ao lado de Beethoven, Chopin e Schubert.

terça-feira, 24 de junho de 2025

Ralph Vaughan Williams-Sinfonia nº. 5 em ré maior

A Sinfonia nº 5 em Ré Maior (Symphony No. 5 in D major) do Ralph Vaughan Williams é uma das suas obras mais luminosas e serenas, composta entre 1938 e 1943. Ela foi estreada em 1943 a  24 de Junho, no Royal Albert Hall num concerto Promenade com o compositor na condução da London Philharmonic Orchestra durante a Segunda Guerra Mundial, e surge quase como um refúgio espiritual num momento de enorme turbulência global.

Ao contrário da 4ª Sinfonia (mais dissonante e tensa), a 5ª destaca-se por um clima introspectivo, pastoral e contemplativo — muito próximo do que Vaughan Williams cultivava em outras obras, como The Lark Ascending. Alguns pontos marcantes sobre essa sinfonia:

  • Tonalidade e atmosfera: A escolha de Ré maior dá uma sensação de luminosidade e serenidade. Apesar disso, há passagens modais que criam cores melancólicas e evocam o folclore inglês.

  • Material melódico: Muitos dos temas foram originalmente pensados para a ópera nunca concluída The Pilgrim’s Progress, o que dá um tom quase espiritual e meditativo.

  • Orquestração: Rica, mas nunca sobrecarregada. Vaughan Williams dá espaço para madeiras e cordas em melodias que se entrelaçam com suavidade.

  • Andamentos:

    1. Preludio (Moderato) — Atmosférico e contemplativo, quase como uma prece.

    2. Scherzo (Presto) — Mais rítmico e agitado, mas nunca estridente.

    3. Romanza (Lento) — O ponto alto emocional da sinfonia, com belas melodias e um clima profundamente meditativo.

    4. Passacaglia (Moderato) — Encerramento solene e esperançoso.

Se comparada a outras sinfonias do próprio compositor — como a Sinfonia nº 2 (Londres), que é colorida e cheia de cenas urbanas, ou a 6ª, que é muito mais sombria — a 5ª é quase como uma “oração em música”. Ela dá a sensação de uma viagem interior e da aceitação tranquila do mundo, e por isso muitos a consideram uma das melhores obras de Vaughan Williams e até da música sinfônica britânica do século XX.

terça-feira, 17 de junho de 2025

Prokofiev-Sonata violino e piano em ré maior op.94b

A Sonata para Violino e Piano em Ré Maior, Op. 94b de Sergei Prokofiev é uma das obras de câmara mais elegantes e líricas do compositor russo. 

Esta sonata é, na verdade, uma transcrição da Sonata para Flauta e Piano Op. 94, que Prokofiev compôs em 1943 durante a Segunda Guerra Mundial. O violinista David Oistrakh, amigo próximo de Prokofiev, ficou impressionado com a sonata para flauta e sugeriu que o compositor a adaptasse para violino. 

O resultado foi esta Op. 94b, finalizada em 1944.e estreado em Moscobo a 17 de Junho

A sonata segue a forma clássica de quatro movimentos:

  1. Moderato – Um movimento inicial com uma melodia expansiva e lírica, que remete ao lado mais neoclássico de Prokofiev. Apesar da guerra, é surpreendentemente sereno.

  2. Scherzo: Presto – Um segundo movimento vivo e espirituoso, com ritmos agudos e um toque de humor sarcástico típico de Prokofiev.

  3. Andante – Um movimento lento e introspectivo, com belas linhas melódicas que evocam um certo lirismo melancólico.

  4. Allegro con brio – Final enérgico, cheio de vitalidade e brilho técnico, exigindo grande habilidade tanto do violinista quanto do piano

A obra é um excelente exemplo do equilíbrio entre lirismo melódico e virtuosismo técnico. A versão para violino ganha uma expressividade mais incisiva do que a original para flauta, mas sem perder a elegância e leveza. É frequentemente descrita como uma sonata de claraza clássica com temperamento moderno, o que reflete bem o estilo de Prokofiev nesse período.

🎵 Interpretação:

É uma peça muito apreciada por violinistas, tanto por sua riqueza melódica quanto por sua sofisticação técnica e expressiva. A versão de David Oistrakh com Lev Oborin ao piano é uma referência absoluta. É uma obra onde se vê a mestria de Prokofiev na escrita para ambos os instrumentos, com um diálogo constante e equilibrado entre violino e piano.

terça-feira, 27 de maio de 2025

Mahler-Sinfonia nº06 em lá menor

A Sinfonia nº 6 em Lá menor de Gustav Mahler, também chamada de “Trágica”, é uma das obras mais intensas e poderosas do repertório sinfônico. Composta entre 1903 e 1904, revisada até 1906, ela é particularmente notável por sua energia sombria, os contrastes emocionais e a monumentalida

🔸 Estrutura: São quatro movimentos:
1️⃣ Allegro energico, ma non troppo
2️⃣ Andante moderato (às vezes posicionado como 3º movimento)
3️⃣ Scherzo: Wuchtig
4️⃣ Finale: Allegro moderato – Allegro energico

A sinfonia é tensa e dramática, com uma alternância entre momentos de lírica ternura e passagens de força avassaladora.

Rica e ousada, com destaque para a percussão (inclusive os famosos "golpes de martelo" no final, que Mahler descreveu como "os golpes do destino").

Muitos estudiosos interpretam os três golpes de martelo do último movimento como premonições das tragédias pessoais que Mahler enfrentaria (a morte de sua filha, o diagnóstico de sua doença cardíaca, e a perda do cargo na Ópera de Viena).

A sinfonia é, ao mesmo tempo, grandiosa e perturbadora, com momentos de beleza quase pastoral interrompidos por forças destrutivas...

A "sexta" é a única entre as sinfonias de Mahler que termina de forma inequivocamente trágica. Mahler foi um compositor com claras conotações "trágicas", mas o facto é que a maior parte das suas sinfonias termina de forma triunfante (n.º 1, 2, 3, 5, 7 e 8), enquanto outras terminam com um clima de alegria (n.º 4), tranquila resignação (n.º 9) ou calma radiante (n.º 10). 

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Shostakovitch-String Quartet nº07 em fá sustenido menor op.108

  • Em 1960 a 15 de Maio, Dimitri Shostakovich estreia em Leninegrado o seu String Quartet No. 7 op.108 interpretado pelo Beethoven Quartet.

  •  é dedicado à memória de sua primeira esposa, Nina Vasilyevna Varzar, que faleceu em 1954.
  • Estrutura em 3 movimentos tocados sem interrupção:

    1. Allegretto

    2. Lento

    3. Allegro – Allegretto

  • Atmosfera emocional: Há um tom de tristeza contidainquietação, e em certos momentos, uma quase ironia sombria — bem típico de Shostakovich. O segundo movimento, por exemplo, é melancólico e quase fúnebre.

Em resumo:

Este quarteto é um lamento pessoal e íntimo, sem grandes gestos heróicos ou retóricos. Ideal para ouvir numa noite calma, com atenção à expressividade contida e à subtileza harmónica. É uma daquelas obras em que Shostakovich diz muito com muito pouco — e isso é das coisas mais difíceis de se fazer na música.


  • Aqui a interpretação he Gail W. Snitzer Advanced Study String Quartet, Settlement Music School || Robyn Bollinger and Caeli Smith, violins; Madeline Smith, viola; Nick Bollinger, cello ||

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quarta-feira, 23 de abril de 2025

Prokofiev-Piano Concerto nº2 em sol menor op.16

  • No ano de 1891 a 23 de Abril nasce em Sontzovska na Ucrania Sergei Prokofiev


o Concerto para Piano n.º 2 em Sol menor, Op. 16 de Sergei Prokofiev 

É uma obra intensa, dramática, cheia de contrastes, e talvez uma das peças mais ousadas do repertório pianístico do século XX. Foi composto em 1913, mas a versão original acabou se perdendo num incêndio. Prokofiev o reconstruiu mais tarde, em 1923, e ele mesmo dizia que a nova versão era ainda mais difícil do que a anterior.

Aqui vão alguns pontos marcantes desse concerto:

Primeiro movimento (Andantino – Allegretto)

Começa com um tema sombrio, quase fúnebre, e evolui para uma cadenza gigantesca para o piano — talvez uma das maiores de todos os concertos, em termos de duração e complexidade. É como se o pianista duelasse com os próprios limites.

Segundo movimento (Scherzo: Vivace)

Um jogo maluco de mãos correndo em uníssono, sem pausa, em velocidade vertiginosa. É curto, mas tecnicamente alucinante. Um verdadeiro balé de dedos.

Terceiro movimento (Intermezzo: Allegro moderato)

Aqui entra um humor um pouco ácido, quase grotesco. Um trote pesado e irônico, com toques caricatos, quase zombeteiros. Parece uma crítica musical feita com sarcasmo.

Quarto movimento (Finale: Allegro tempestoso)

É o clímax emocional — tempestuoso de verdade. Explosões orquestrais, dissonâncias intensas, e uma luta quase épica entre o piano e a orquestra até o fim. 

terça-feira, 15 de abril de 2025

Prokofiev-Piano Sonata nº3 em lá menor op.28

  • Em 1918 a 15 de Abril, Prokofiev estreia em Petrogardo seu Piano Sonata No. 3 em lá menor op.28 


porém com base em esboços juvenis de 1907-1908 — ou seja, ele a escreveu com 26 anos, mas partindo de ideias de quando tinha cerca de 17.

Subtítulo:

"From the Old Notebooks" ("Dos Cadernos Antigos") — um nome muito revelador da natureza da obra, como uma revisitação do seu eu mais jovem.


Características musicais:

  • Estrutura:
    É uma sonata de movimento único, mas com seções internas contrastantes que remetem à forma sonata tradicional (exposição – desenvolvimento – recapitulação), ainda que tratadas de forma muito livre.

  • Estilo:
    Típico de Prokofiev:

    • Rítmico, incisivo, com harmonias ousadas e sarcasmo latente;

    • Passagens líricas e sonhadoras contrastam com momentos rudes e percussivos;

    • Um certo ar de improvisação juvenil misturado à arquitetura madura.

  • Técnica pianística:
    Virtuosística, mas com um brilho direto, sem exagero. Exige controle rítmico, articulação precisa e sensibilidade para os contrastes — desde os trechos agitados até os mais poéticos.

  • aqui a interpretação é de Martha Argerich

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