domingo, 12 de outubro de 2025

Rachmaninov-Variações sobre um Tema de Corelli Op42

..As “Variações sobre um Tema de Corelli”, Op. 42, de Sergei Rachmaninov, são uma das obras mais íntimas e refinadas do seu repertório para piano solo. Aqui vai uma explicação detalhada e interessante


  • Título original: Variations on a Theme of Corelli, Op. 42

  • Compositor: Sergei Rachmaninov (1873–1943)

  • Ano de composição: 1931

  • Estreia: 12 de outubro de 1931, em Montreal, com o próprio Rachmaninov ao piano.

  • Duração média: cerca de 18–20 minutos

  • Instrumentação: piano solo

  • Número de variações: 20, mais uma Cadenza e uma Coda.

O “Tema de Corelli”

Apesar do título, o tema não é de Arcangelo Corelli propriamente dito.
Rachmaninov usou o célebre tema “La Folia”, uma progressão harmónica de origem ibérica (possivelmente portuguesa ou espanhola) que foi popularizada por muitos compositores barrocos, entre eles Corelli (na sua Sonata Op. 5 n.º 12 para violino e contínuo).
Portanto, o “tema de Corelli” é na verdade La Folia na versão corelliana.

O tema tem 16 compassos e uma harmonia muito reconhecível, sobre a qual inúmeros compositores criaram variações ao longo dos séculos.

Estrutura

A obra é construída assim:

  1. Tema – apresentado de forma sóbria e clara.

  2. Variações I–XIII – desenvolvem o tema com crescente virtuosismo, alternando climas líricos e tempestuosos.

  3. Intermezzo (Andante) – uma pausa contemplativa após a Variação XIII.

  4. Variações XIV–XX – retomam o fluxo, atingindo grande intensidade técnica e emocional, incluindo uma Cadenza (quase improvisatória) antes da Variação XIX.

  5. Coda – surpreendentemente tranquila e introspectiva, contrastando com o clímax anterior.

Características musicais

  • Economia temática: toda a obra nasce de um único tema, que Rachmaninov transforma com extraordinária imaginação.

  • Equilíbrio entre lirismo e virtuosismo: embora haja passagens extremamente exigentes, é uma obra mais íntima do que, por exemplo, os Concertos para Piano.

  • Estilo tardio: composta depois da sua emigração definitiva para os EUA, mostra um Rachmaninov mais contido, com harmonias sofisticadas e um toque quase neoclássico.

  • Liberdade interpretativa: Rachmaninov costumava pular variações ao vivo se sentisse que o público estava cansado — especialmente nos EUA, onde ele dizia que “o público americano boceja se não há fogo-de-artifício a cada minuto”. Numa gravação sua, ele omite 5 variações.

Importância

  • Foi a última grande obra original para piano solo de Rachmaninov.

  • Mostra a sua habilidade como pianista-compositor maduro, capaz de unir forma clássica (variações sobre La Folia) a uma linguagem harmónica pessoal e moderna.

  • Hoje é considerada uma peça de recital de alto nível técnico e expressivo, frequentemente programada por pianistas que desejam mostrar profundidade interpretativa além do virtuosismo

 

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