Ele voltou ao concerto no verão de 1917. Foi estreado em 18 de outubro de 1923 na Ópera de Paris, com Marcel Darrieux tocando violino e a Orquestra da Ópera de Paris dirigida por Serge Koussevitzky.
O Concerto para Violino nº 1 em Ré maior, Op. 19 de Serguei Prokofiev é uma das obras mais originais e poéticas do repertório violinístico do século XX. Foi composto entre 1915 e 1917, durante um período em que Prokofiev ainda vivia na Rússia, pouco antes de deixar o país após a Revolução. Embora seja cronologicamente anterior ao Concerto n.º 2, acabou sendo estreado mais tarde — o que dá uma curiosa inversão na sua história.
Originalmente Prokofiev pretendia escrever um concerto em estilo mais “virtuosístico” para mostrar suas habilidades pianísticas e composicionais — mas acabou produzindo uma obra de delicadeza lírica e refinamento orquestral, bastante distinta do seu estilo mais ácido e percussivo de outras peças do período.
Estrutura da Obra
O concerto tem três movimentos:
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Andantino – Andante assai
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O violino inicia com uma melodia etérea e sonhadora, quase como uma canção sem palavras.
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A orquestra acompanha de forma leve e transparente, com uma escrita que evoca paisagens suaves e oníricas.
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A seção central é mais agitada, mas a música retorna ao caráter inicial.
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Esse movimento revela um Prokofiev mais lírico e introspectivo, com harmonias modais e um senso de fantasia.
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Scherzo: Vivacissimo
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Um contraste explosivo com o primeiro movimento.
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O violino executa passagens extremamente ágeis, saltitantes e irônicas, em típico estilo “mordaz” de Prokofiev.
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As mudanças métricas e rítmicas rápidas criam um efeito quase mecânico, cheio de humor ácido.
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É tecnicamente desafiante para o solista — exige leveza, precisão e clareza rítmica.
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Moderato – Allegro moderato
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Começa de modo tranquilo e contemplativo, com uma melodia ampla e sonhadora.
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Gradualmente cresce em intensidade, conduzindo a uma parte final mais afirmativa e grandiosa.
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Curiosamente, o concerto termina de forma delicada, retomando o tema inicial do primeiro movimento no registro agudo do violino — como se fechasse um círculo poético.
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Contexto Estilístico
Este concerto mistura lirismo quase impressionista com a ironia rítmica típica de Prokofiev.
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Diferente dos concertos “heroicos” de Tchaikovsky ou Sibelius, aqui a virtuosidade está integrada à música, sem exibições gratuitas.
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A escrita orquestral é clara e colorida, com uso engenhoso das madeiras e cordas em diálogos leves.
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A atmosfera do primeiro e terceiro movimentos influenciou inclusive compositores franceses, o que fez a obra encaixar-se bem no gosto parisiense dos anos 1920.
Curiosidades
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Prokofiev escreveu parte da obra enquanto trabalhava na sua Primeira Sinfonia (“Clássica”), o que explica certa leveza e transparência na instrumentação.
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Embora o concerto n.º 2 tenha sido escrito depois (1935), ele foi estreado antes, em 1935, tornando-se mais popular inicialmente.
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O Concerto n.º 1 conquistou popularidade principalmente graças à violinista Joseph Szigeti, que foi um de seus grandes defensores.
Por que é importante
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Marca uma das primeiras obras-primas do jovem Prokofiev, revelando seu lado poético, muitas vezes ofuscado por sua reputação de compositor “mordaz” ou “percussivo”.
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É uma peça central no repertório moderno de violino, tocada por grandes intérpretes como David Oistrakh, Itzhak Perlman, Hilary Hahn e Lisa Batiashvili.
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Sua forma circular (começar e terminar etereamente), linguagem harmônica fresca e equilíbrio entre lirismo e virtuosidade fizeram dela uma obra singular no início do século XX.
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