A Sonata para Violino n.º 32 em Si bemol maior, K. 45 é uma obra do período muito inicial da sua carreira. Composta em 1768, quando Mozart tinha apenas 12 anos, essa sonata faz parte de um grupo de obras juvenis que mostram já uma surpreendente maturidade, mesmo que ainda fortemente influenciada pelo estilo galante de compositores como Johann Christian Bach.
Alguns pontos de destaque:
Estilo galante: A sonata tem leveza, elegância e simplicidade típicas do estilo galante, com melodias claras e frases simétricas. Não apresenta ainda a complexidade emocional das obras mais maduras de Mozart.
Violino e teclado: À época, essas sonatas eram muitas vezes compostas para cravo (ou piano) com acompanhamento de violino, e não como peças de verdadeira igualdade entre os dois instrumentos — o teclado lidera, e o violino embeleza.
Forma clássica: A estrutura segue os moldes típicos da sonata clássica da época, com dois ou três movimentos (a depender da edição e manuscritos consultados). A versão mais conhecida apresenta dois movimentos.
Allegro
Menuetto
Esses dois movimentos seguem o padrão das primeiras sonatas de Mozart, escritas ainda com forte influência do estilo galante e com foco na leveza e na clareza formal. O primeiro movimento é animado, com forma sonata simples; o segundo, um menueto elegante e bem proporcionado.
Importância histórica: Embora não seja das obras mais interpretadas de Mozart, é importante para se perceber a evolução do compositor e seu domínio precoce da forma e do estilo.
A Dvořák – String Quartet No. 14 em Lá bemol maior, Op. 105, é uma das obras de câmara mais refinadas e maduras do compositor tcheco Antonín Dvořák, composta em 1895. É também o último quarteto de cordas que ele escreveu, o que já dá uma ideia do quanto ele estava no auge do domínio do gênero.
Contexto e Clima
Esse quarteto foi iniciado nos Estados Unidos (onde Dvořák esteve como diretor do Conservatório Nacional de Música em Nova York), mas terminado já em Praga. A peça tem, portanto, um pé em dois mundos — é como um adeus às experiências americanas e um reencontro profundo com as raízes boêmias. A tonalidade de Lá bemol maior, incomum para quarteto, já sugere um certo calor e expansividade harmônica.
É dividido em 4 movimentos:
Allegro appassionato – Começa com um tema sombrio e enérgico, que aos poucos vai se iluminando. É apaixonado, sim, mas também um pouco contido, como se estivesse lembrando de algo distante.
Molto vivace – Um scherzo dançante, cheio de síncopes e surpresas rítmicas. Aqui se nota aquele Dvořák leve, brincalhão, meio camponês, meio cigano.
Lento e molto cantabile – Este movimento é o coração da obra. Um canto introspectivo, de melancolia doce, como quem contempla o tempo que passou e as coisas que ficaram para trás. Pode lembrar um adágio de Brahms ou mesmo um lamento folclórico boêmio.
Allegro non tanto – O final traz de volta a energia, mas com elegância e serenidade. É como se ele fechasse a obra com um sorriso tranquilo — não um final heroico, mas um aceno maduro de quem sabe que cumpriu seu caminho.
Maturidade técnica e emocional: Dvořák já havia escrito sinfonias, óperas e outros quartetos. Aqui, ele une a simplicidade das melodias populares com uma escrita harmônica e contrapontística muito sofisticada.
Mistura de mundos: Há ecos do Novo Mundo, sim, mas também uma afirmação da sua boemia interior, que retorna com força no lirismo e no modo como ele trata as cordas.
Pouco ouvido, muito precioso: Não é tão popular quanto os quartetos "americanos" ou o famoso Op. 96, mas para quem ouve com atenção, este é talvez o mais sincero e completo dos seus quartetos.
