terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Debussy


Compositor francês, Claude Achille Debussy nasceu em Saint-German-en-Laye a 22 de Agosto de 1862. A vocação musical do jovem foi descoberta por M.me Fauté de Fleurville, que o preparou para o Conservatório, onde foi admitido em 1873. Em 1884 recebe o grande prêmio de Roma de composição. Viaja para Moscovo com M.me von Meck, protectora de Tchaikovsky, interessando-se pela obra do então desconhecido Mussorgsky, que o influenciará.

Após uma estada na vila Médici, em Roma, retorna a Paris, em 1887, entrando em contacto com a avant-garde artística e literária. Frequenta os mardis de Mallarmé. No mesmo ano conhece Brahms, em Viena. Em 1888 ouve, em Bayreuth, Tristão e Isolda, de Wagner, que lhe causa profunda impressão. Em Paris, na exposição de 1889, ouve música do Oriente.

A vida de Debussy corre sem grandes acontecimentos, o escândalo doméstico do seu divórcio (deixa Rosalie Texier para casar-se com Emma Bardac) e a estreia tumultuosa de Pelléas e Mélisande, em 1902. Com raros aparecimentos públicos, seus anos finais foram minados pela doença (câncer) e pelo desgosto das derrotas francesas na I Guerra Mundial. Debussy morreu em Paris a 25 de Março de 1918.

À excepção de algumas peças mais conhecidas, Debussy deixou obra pouco acessível, pelo carácter inovador. Para o grande público seu nome está ligado aos sketches sinfónico de O mar (1905), ao terceiro movimento da Suite bergamasca (1809-1905), Luar, aos nocturnos para orquestra e algumas peças dos Prelúdios para piano. É o Debussy impressionista, autor de uma música vaga 'que se ouve com a cabeça reclinada nas mãos', segundo Cocteau.

Tais conceitos foram, depois, reformulados. Mas, por algum tempo, Debussy foi vítima do equívoco de ser considerado autor de uma música 'literária' e 'pictórica', por causa de suas ligações com a poesia simbolista e com o Impressionismo nas artes plásticas. Sua inovação foi, entretanto, de ordem musical, e é em termos musicais que a sua obra passou depois a ser compreendida.

O impressionismo de Debussy residiria no carácter flou, vago, de seus subtis jogos harmónicos, em que a melodia parecia dissolver-se. Mas essa fluidez era a aparência, como depois se viu. A melodia não se dissolveu propriamente, mas libertou-se dos cânones tradicionais, das repetições e das cadências rítmicas. Debussy não seguiu também as regras da harmonia clássica, deu uma importância excepcional aos acordes isolados, aos timbres, às pausas, ao contraste entre os registos. Trouxe uma nova concepção de construção musical, que se acentuou na sua última fase. Por isso foi incompreendido. O que não lhe desagradaria, pois ele mesmo propôs, certa vez, a criação de uma 'sociedade de esoterismo musical'.

A obra de Debussy é bastante diversificada, do ponto de vista dos géneros e das formas que utilizou. Não se pode dizer que tenha sido compositor essencialmente vocal ou instrumental, sinfónico ou camerístico, pois todas as suas obras, em que pese a diversidade de meios que utilizou, parecem transmitir a mesma mensagem. A abertura de um universo sonoro inteiramente novo, em que a sugestão ocupou o lugar da construção temática e definida. De modo geral, sua obra pode ser dividida em música para orquestra, música de câmara e para instrumentos solos, música para piano, canções e música coral, obras cénicas e música incidental.

A música orquestral de Debussy é a que corresponde melhor à sua imagem de impressionista. Em 1894, o Prelúdio à tarde de uma fauna, baseado no poema de Mallarmé, causou estranheza pela 'ausência de melodia': Debussy lançou na verdade, a sugestão de um tema melódico, sem desenvolvimento. Os Nocturnos (1893-1899), O mar e Imagens para orquestra (1909) pareciam confirmar a imagem do músico vago, cujas melodias não tinham contornos definidos e cuja construção harmónica parecia desarticulada: o tom poético dos títulos confirmaria a imagem de uma música 'literária'. Mas a poesia estava na música, na liberdade melódica, na pesquisa dos timbres, numa nova construção harmónica O efeito disso era uma nova e estranha sonoridade.

A música de câmara e para instrumentos solistas é uma secção reduzida na obra de Debussy. Em 1893 compõe o Quarteto para cordas em sol menor, obra singular cuja construção difere essencialmente do quarteto clássico beethoveniano. Também as três sonatas do seu período final foram construídas segundo princípios inteiramente diversos da sonata clássica vienense, mas por outros motivos.

Foram compostas no período da guerra, e Debussy, nacionalista intransigente, rejeitou os princípios da sonata clássica vienense para recuperar a forma cíclica da sonata francesa. As três sonatas (1915-1917), parte de um ciclo que ficou incompleto, para instrumentos diversos, das quais a mais importante é a Sonata para piano e violino, são obras avançadas, com aspereza inéditas em sua música anterior. Entre as composições para instrumento solo destaca-se, em estilo semelhante, Syrinx, para flauta desacompanhada.


A música pianística é uma secção importante na obra de Debussy. São conhecidas sobretudo as colecções Suíte bergamasca, Estampas (1903), Imagens (1905-1907), Canto das crianças (1906-1908) e os Estudos (12) I e II (1915). Da Suite bergamasca aos Estudos a evolução é marcante: os títulos poéticos desaparecem. Os títulos técnicos dos estudos (notas repetidas, sonoridades opostas, escalas cromáticas, etc.) apenas revelam a consciência técnica inovadora que se ocultava atrás de títulos poéticos como Jardins sob a chuva, Sinos por entre as folhagens, A catedral submersa, etc., em outros conjuntos (Estampas, Imagens, etc.).

No último período, não só a música pianística se torna mais abstracta como também mais áspera na pesquisa de novos timbres. Finalmente, em Seis epigrafes antigas e Em branco e negro, ambos de 1915, Debussy retorna às fontes clássicas francesas, Couperin e Rameau.

Debussy começou a sua carreira compondo música vocal, persistindo no género até os últimos anos de criatividade. O acervo é grande, incluindo a musicalização de muitos poetas. Entre as colecções mais célebres estão os Cinco poemas de Baudelaire (1887-1889), Arietas esquecidas (1888), de Verlaine, as Canções de Bilitis (1897), de Pierre Louys, e as Três baladas de François Villon (1913). A técnica melódica de Debussy fundamenta-se na melodia dos próprios versos, mas, nas baladas de Villon, nota-se a evolução para um severo despojamento.

Em 1902, a estreia da ópera Pelléas e Mélisande, sobre texto de Maeterlinck, causou estranheza: era quase uma antiópera, que se pretendia anti-Wagner na sua extrema contenção de texto declamado. Nela Debussy voltou-se contra toda a tradição dramática, de Berlioz a Wagner. Anos depois, em 1911, O martírio de São Sebastião é uma obra cénica ainda mais insólita. Da mesma época é a música para balé Jogos (1912), obra de surpreendentes inovações e de grande complexidade harmónica.

A música inovadora de Debussy agiu como um fenómeno catalisador de diversos movimentos musicais em outros países. Na França, só se aponta Ravel como influenciado, mas só na juventude, não sendo propriamente discípulo. Influenciados foram também Bartók, de Falla, Villa-Lobos e outros. Do Prelúdio à tarde de uma fauna, com que, para Pierre Boulez, começou a música moderna, até Jogos, toda a arte de Debussy foi uma lição de inconformismo.

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