quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Alan Hovhaness-Sinfonia n. 3 op 148

Em 1956 a 14 de Outubro, Alan Hovhaness estreia a Sinfonia n. 3 op 148, Symphony of the Air, com Leopold Stokowski conduzindo a orquestra

A Sinfonia n.º 3, Op. 148 de Alan Hovhaness é uma das obras sinfónicas mais representativas do estilo contemplativo e espiritual do compositor.  esta sinfonia tem uma duração aproximada de 15 a 20 minutos e estrutura-se em três movimentos, seguindo um modelo clássico, mas com linguagem muito própria:

1.º movimento – Andante

Este movimento estabelece imediatamente o clima meditativo característico de Hovhaness. A escrita contrapontística lembra o estilo coral renascentista, com linhas melódicas independentes que se entrelaçam de forma serena, quase como um canto espiritual coletivo. 

2.º movimento – Allegro

Aqui há um contraste rítmico mais evidente, mas sem abandonar a clareza modal. O movimento utiliza padrões imitativos e ostinati, lembrando danças antigas ou até influências arménias discretas. É frequente que Hovhaness combine texturas quase barrocas com timbres modernos, criando um efeito de solenidade viva, não agressiva.

3.º movimento – Andante espressivo

O último movimento retoma o tom contemplativo inicial, mas com maior profundidade emocional. As linhas melódicas parecem fluir como cantos litúrgicos ou hinos espirituais. A música culmina não num clímax dramático, mas numa espécie de “elevação tranquila”, típica da estética hovhanessiana: em vez de resolver tensões, a música dissolve-se numa quietude luminosa.

Características gerais notáveis

  • Uso intensivo de contraponto modal inspirado em Palestrina e na música medieval/renascentista.

  • Ausência de conflito dramático: Hovhaness evita dissonâncias fortes e desenvolvimentos sinfónicos no estilo beethoveniano.

  • Carácter místico e intemporal, muitas vezes associado a paisagens naturais ou experiências espirituais.

  • Orquestração clara e equilibrada, privilegiando cordas e madeiras, com uso muito controlado dos metais.

Contexto estilístico

A 3.ª Sinfonia surge num período em que Hovhaness começa a consolidar o seu estilo pessoal, afastando-se das vanguardas pós-guerra e da tradição sinfónica europeia dramática. Em vez disso, procura uma voz profundamente interior, universal e espiritual, o que fez com que fosse muitas vezes visto como um compositor “à margem” das correntes dominantes.

Em suma, a Sinfonia n.º 3 é uma obra lírica, contemplativa e quase “atemporal”. Não busca o virtuosismo orquestral nem a inovação técnica, mas cria um espaço sonoro de calma e transcendência — um exemplo claro de como Hovhaness conseguiu forjar uma linguagem única no século XX.

     

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